segunda-feira, maio 12, 2014

KAFKA PARA SOBRECARREGADOS - DE ALLAN PERCY - PARTE 05 E 06

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5 – Numa luta entre você e o mundo, fique do lado do mundo.
Há dois tipos de pessoas: as que nadam contra a corrente dos acontecimentos e as que fluem com eles.
Segundo o taoismo, uma filosofia milenar chinesa, quem se afasta ou se desvia do fluxo da vida se distancia da sabedoria e da virtude. Diante de qualquer mudança ou transformação, o sábio confia no movimento.
A lei do Tao é a força motriz da transformação, pois tudo está incluído nele. Essas mudanças acontecem no céu, na terra e no homem. Para enfrentá-las com sabedoria, é preciso obedecer a quatro tópicos:
– Esperar para agir no momento certo.
– Reagir de forma adequada, respeitando os outros e evitando excessos.
– Não se deixar influenciar por intenções particulares e egoístas.
– Identificar quando a mudança é de fato necessária.
O sábio aprende a mudar, a se transformar, a se livrar do que está fossilizado, a se libertar das pessoas, dos objetos e dos lugares.
Especialmente em tempos confusos como os atuais, é preciso saber desapegar-se de tudo. Ou, como diz o ditado: é preciso mudar tudo para que nada mude.


6 – Os lugares onde se esconder são numerosos, mas só há uma saída, embora as possibilidades de escapar outra vez sejam tantas quanto os lugares onde se esconder.
Esta enigmática reflexão de Kafka me faz lembrar de um conto contemporâneo de autor desconhecido. Seu protagonista é um homem condenado a trinta anos de prisão por um crime que não cometeu. Os altos muros cinza foram, durante toda a sua juventude, a paisagem cotidiana que seus olhos viram.
Pouco a pouco ele foi se habituando ao ambiente carcerário: os demais internos se tornaram seus irmãos, e os responsáveis pelo lugar se transformaram na autoridade familiar. Sua cela era seu quarto, e a biblioteca era seu único refúgio. Os livros de aventuras o transportavam para além dos muros de concreto.
Chegou o dia em que a sua sentença foi cumprida, mas ninguém se lembrou disso, nem sequer ele mesmo. Três anos se passaram, e um funcionário percebeu que o homem já tinha direito à liberdade havia tempos. Ao lhe comunicarem isso, ele ficou aterrorizado. Quando as portas da prisão se fecharam às suas costas, ele sentiu-se nu. De repente, o mundo exterior – a liberdade – lhe parecia uma prisão imensa. Todos somos um pouco como esse homem. Ansiamos pela liberdade, mas morremos de medo dela. 

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