19 – Todas as crianças, enquanto ainda vivem o mistério, têm sempre a alma focada nas únicas coisas importantes: nelas mesmas e na secreta conjunção com o mundo que as rodeia.
Desde a mais tenra idade, a criança tem, por um lado, capacidade de se surpreender, de descobrir, e, por outro, a necessidade de se autoafirmar, de expressar sua identidade em relação ao mundo.
Erich Kästner, autor de literatura infanto-juvenil, dizia que “a maioria das pessoas abandona sua infância como um velho chapéu. Esquecem-se dela como um número de telefone que não serve mais. Antes eram crianças, depois se tornaram adultos, mas o que são agora? Só aquele que se torna adulto mas continua sendo criança é um ser humano”.
É importante não esquecer essa parte de nós que não teme a descoberta, a revelação do mistério do que é possível ou impossível. Em cada adulto dorme uma criança que crê na magia do mundo e da vida. E a leva a sério porque, quando o menino brinca de ser pirata, está sendo realmente um pirata.
No filme Em busca da Terra do Nunca, depois de assistir à peça de teatro, os adultos da sala olham para o pequeno Peter e dizem que ele é Peter Pan. No entanto, o menino responde: “Não, Peter Pan é ele”, e aponta para o senhor James Barrie, autor da obra.
James Barrie sabia que os sonhos são o motor do mundo.
Por isso, nunca perdeu sua capacidade de sonhar, de imaginar, deacreditar, de surpreender a si mesmo e aos outros. Não queria deixar de ser criança.
Quando um adulto não está satisfeito consigo mesmo, deve se perguntar o que esqueceu no caminho. A resposta normalmente é que não cumpriu com o combinado.
De vez em quando é recomendável olhar para trás e fazer uma lista do que queríamos fazer com nossa vida, reviver nossos sonhos de infância e juventude. Ao estabelecer o que já conseguimos e o que ainda estamos por fazer, nos damos conta de que renunciamos a muitos dos nossos sonhos talvez porque os julgássemos impossíveis, porque não nos considerávamos capazes de concluí-los ou porque tínhamos medo de realizá-los.
O tempo é um grande aliado da inércia e da preguiça. Na fábula Momo, Michael Ende nos mostra um mundo no qual os adultos se esquecem das crianças, deixam de brincar com elas porque têm que trabalhar para ganhar tempo, sem se darem conta de que a única coisa que fazem é perder esse tempo e, com ele, a alegria.
Voltar a olhar para o mundo com os olhos de uma criança nos permite reencontrar o ser mais verdadeiro que habita dentro de nós. Vale a pena mergulhar nessa fonte e abandonar por um momento as obrigações, tarefas e desculpas por trás das quais nos escondemos para não pensar em nossos sonhos não realizados.
20 – O que possuímos não é visto, e muitas vezes não estamos conscientes disso.
No romance Demian, o guru juvenil de mesmo nome se revela um mestre do poder mental e representa algo que não está muito longe da lei da atração:
“Quando um animal ou um homem orienta toda sua atenção e toda sua vontade a uma determinada coisa, acaba conseguindo-a… Se observarmos um homem com muita atenção, acabaremos por saber dele muito mais do que ele mesmo.”
Embora a concentração não seja suficiente para que realizemos nossos próprios desejos, é verdade que a atenção é um primeiro passo para compreender profundamente algo e entendero que devemos fazer.
Vejamos dois exemplos:
Um conflito interpessoal. A maioria das discussões e brigas começa porque uma ou ambas as partes não estão conscientes do efeito de seus atos ou de suas palavras. A empatia, no fundo, não é nada mais do que um foco nítido sobre a situação e a necessidade do outro.
Um projeto em curso. As possibilidades de sucesso dependem diretamente da atenção que estamos depositando em todos os detalhes: etapas a cumprir, possíveis obstáculos, planos B, ajudas com as quais podemos contar, etc.
A atenção é o equivalente ao ponto de mira de uma arma de precisão. Se o foco está sujo ou não o utilizamos ao atirar, o mais provável é que erremos o tiro.