73 – Não somos culpados só porque comemos da árvore do conhecimento, mas também porque não comemos da árvore da vida.
Se pudesse viver novamente minha vida, da próxima vez cometeria mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais bobo do que fui, levaria muito poucas coisas a sério.
Seria menos higiênico.
Correria mais riscos, faria mais viagens, contemplaria mais entardeceres, subiria
mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares aonde nunca fui, comeria mais sorvete e menos verduras, teria
mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e prolificamente cada minuto de sua vida; é claro que tive momentos de alegria.
Mas se pudesse voltar atrás tentaria ter somente bons momentos.
Se por acaso ainda não o sabem, a vida é feita disso, só de momentos; não percas o agora.
Eu era um desses que nunca iam a lugar algum sem termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um paraquedas.
Se pudesse voltar a viver, viajaria menos carregado.
Se pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no início da primavera e continuaria assim até acabar o outono.
Daria mais voltas de carrossel, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez a vida pela frente.
Mas já tenho 85 anos e sei que estou morrendo.
Nadine Stair
74 – Os beijos escritos nunca chegam ao destino: são bebidos pelos fantasmas do caminho.
Conserva-se muito do material epistolar de Kafka, e destacam-se principalmente as Cartas a Milena e as Cartas a Felice, enquanto a Carta ao pai, por sua profundidade e extensão – mais de quarenta páginas –, transcenderia o que se entende por carta.
Franz Kafka escreveu ao pai em 1919, reprovando seu mau comportamento. Ele entregou a carta à mãe, para que ela mesma desse ao marido. Mas ela leu a carta e negou-se a entregá-la, devolvendo-a ao filho. A carta foi publicada postumamente em 1952.
Voltando às cartas mais breves, é interessante esta reflexão de Kafka sobre elas:
Escrever cartas é comunicar-se com fantasmas, não só com o fantasma do receptor, mas com o próprio, que emerge dentre as linhas que estão sendo escritas... É uma pena que o correio eletrônico tenha praticamente apagado da face da Terra esta forma de comunicação, mas até o e-mail nos permite mandar mensagens a nós mesmos para que emerja o próprio fantasma e possamos nos entender melhor.
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