quarta-feira, agosto 06, 2014

KAFKA PARA SOBRECARREGADOS - DE ALLAN PERCY - PARTE 93 E 94



93 – É assim que falam os culpados.
Esta frase pertence ao final do romance O processo, onde um torturado Josef K. tenta se defender de uma acusação e fala com um religioso em uma igreja vazia:
– Eu não sou culpado – diz Josef K. – Como um homem pode ser culpado?
O padre lhe dá razão, mas logo depois acrescenta que “é assim que falam os culpados”, ou seja, por meio da justificação. Aplicada à nossa vida pessoal, esta passagem kafkiana nos mostra três coisas sobre o sentimento de culpa:
• O juiz mais rigoroso, o que determina os piores castigos, sempre somos nós mesmos.
• Julgar os outros é outra maneira de nos castigarmos, já que quase todo julgamento nos enche de emoções negativas, como o ressentimento e o desejo de vingança.
• A única maneira de neutralizar o sentimento de culpa em relação ao passado é investir toda a nossa energia em agir de maneira correta no presente. 

94 – O ponto de vista da arte e o da vida são diferentes mesmo no próprio artista.
“Se a estrutura da matéria muda de sólido para líquido e de líquido para gasoso, como você não pode mudar de opinião? Sem mudar de opinião não saímos da crise! Apesar de os cientistas terem demonstrado que o cérebro de alguns primatas é suficientemente complexo para retificar suas ideias, os humanos podem mudar de opinião, mas odeiam ter de fazê-lo.
Se perguntássemos a um grupo de pessoas ‘O que mais o irrita na vida?’, uma boa parte responderia sem hesitar: ‘Mudar de opinião. Deixar de ser quem sou.’
Considera-se que mudar de opinião é uma frivolidade e que manter-se fiel a suas convicções é sinal de sensatez e lealdade. O cérebro detesta alterar seus costumes porque nisso está em jogo a sobrevivência.”
Eduardo Punset

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