quinta-feira, junho 05, 2014

KAFKA PARA SOBRECARREGADOS - DE ALLAN PERCY - PARTE 33 E 34



33 – O dever escolar é você. Não se vê um aluno em parte alguma.

Em uma de suas palestras, o filósofo indiano Jiddu Krishnamurti afirmou que “a autoridade corrompe tanto o aluno quanto o professor”.
Somos viciados em autoridade porque é mais fácil deixar que os outros decidam por nós do que assumir a responsabilidade por nossa própria vida.
As pessoas aprenderam a obedecer à autoridade sem hesitar. Isso faz com que elas deixem de refletir se o que estão fazendo é certo ou errado. E, por esse motivo, acreditam que não sofrem mais por essa dúvida.
No entanto, a autoridade nos impede de evoluir intelectual e espiritualmente. Aprender significa ser livre para escolher e também para errar. Se nos guiarmos por uma autoridade – um guru, um partido político, um time, qualquer instância externa a nós –, não aprenderemos nada. Seremos doutrinados, nos tornaremos meros repetidores daquilo que ouvimos. Podemos até chegar a ser eruditos, mas continuaremos incapazes de aprender.
Como dizia Buda, toda balsa serve somente para nos levar à outra margem. Não faz sentido continuar carregando-a depois de atravessar o rio. O mesmo acontece com os professores: eles nos levam à outra margem, mas cabe a nós explorar os novos territórios. 

34 – Cumpro com meus deveres, mas não com minhas obrigações íntimas – e cada obrigação íntima não cumprida se transforma em uma infelicidade duradoura.


Quais são nossas obrigações íntimas que, se não forem atendidas, se transformam em infelicidade?
Há um texto atribuído a Jorge Luis Borges que define muito bem o que alguém pode sentir ao chegar a uma certa idade sem ter cumprido sua obrigação mais sagrada:
Cometi o pior dos pecados que um homem pode cometer. Não fui feliz. Que as geleiras do esquecimento me arrastem e me levem, sem piedade. Meus pais me engendraram para o belo e arriscado jogo da vida, para a terra, a água, o ar, o fogo. Eu os decepcionei. Não fui feliz. Não cumpri sua vontade. Minha mente se dedicou às perfídias da arte, que tece inutilidades. Legaram-me coragem. Não fui valente. A sombra de minha infelicidade está sempre ao meu lado.
Nesse mesmo sentido, Robert Louis Stevenson, autor de A ilha do tesouro, dizia: “Não há dever de que descuidamos tanto como o de ser feliz.”

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