domingo, maio 25, 2014

KAFKA PARA SOBRECARREGADOS - DE ALLAN PERCY - PARTE 17 E 18


17 – Duas tarefas no início da vida: estreitar cada vez mais sua órbita, sem deixar de verificar se você não está escondido fora dela.

“Às vezes, o destino é com o uma tempestade de areia que o faz mudar de direção. Você pode tomar outro caminho, mas o fenômeno o atrapalha. Você volta a mudar de rumo, mas a intempérie o desvia novamente. Ela brinca por cima de você como uma agourenta dança com a morte pouco antes da aurora. Por quê? Porque a tempestade não é algo que sopra longe, algo que não tem nada a ver com você. Essa tempestade é você. É algo dentro de você. Assim, tudo o que se pode fazer é render-se a ela, andar a passos firmes em meio a ela, fechando os olhos e protegendo os ouvidos, e caminhar através dela, um passo de cada vez. Dentro da tempestade não brilha o sol nem a lua, não há direção nem sensação de tempo. Só há a fina e branca areia redemoinhando-se para o céu como ossos pulverizados. [...] E, uma vez amainada a tempestade, você não se lembrará de como se livrou dela, de como conseguiu sobreviver. Na verdade, não terá certeza de que a tempestade realmente cessou. Mas uma coisa é certa: quando sair da tempestade, você já não será mais o mesmo que caminhou por dentro dela. Essa é a essência da tempestade.”

18 – O livro deve ser o machado que rompe o nosso mar congelado.

Comentamos anteriormente sobre a biblioterapia como método de cura ou fuga dos problemas cotidianos. No entanto, Kafka dizia que certas leituras tinham uma capacidade muito diferente: a de nos permitir quebrar nossa carapaça para poder ver o que há debaixo dela.
Em suas palavras:
Necessitamos dos livros que nos afetam como um desastre, que nos afligem profundamente como a morte de alguém que amamos mais que a nós mesmos, como estar perdido sozinho num bosque, como um suicídio. Franz Kafka defendia a necessidade de viver emoções fortes por meio de leituras provocadoras que gerassem mudanças profundas em nossa psique. “Realmente, ficaríamos mais tranqüilos sem tais sofrimentos, mas nesse caso a vida seria tediosa.”
Sem dúvida, obras inquietantes como O castelo, do próprio Kafka, provocam esse efeito.
“Se o livro que lemos não nos desperta com um soco no estômago, para que lê-lo?”

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