quarta-feira, julho 23, 2014

KAFKA PARA SOBRECARREGADOS - DE ALLAN PERCY - PARTE 67 E 68



67 – O amor é um drama cheio de contradições.
A vida sentimental de Kafka foi um compêndio de medos, relacionamentos a distância e mudanças súbitas de opinião.
Talvez por isso ele fosse um assíduo visitante dos prostíbulos, como explica em um de seus escritos pessoais:
Tenho tanta necessidade de encontrar alguém que me toque amistosamente e nada mais que ontem fui a um hotel com uma prostituta. Ainda que seja demasiado velha para se deixar levar pela melancolia, dói-lhe, por mais que não a surpreenda, que os homens não tratem as prostitutas com tanta delicadeza quanto tratam suas namoradas. Não a consolei, já que ela tampouco me consolou.
Este fragmento amargurado nos serve para enumerar as três principais razões pelas quais as relações amorosas fracassam:
• Cada um dos parceiros procura algo diferente (por exemplo: um busca estabilidade, e o outro, aventura).
• Um tenta mudar ou moldar o outro a seu bel-prazer.
• Ainda que as relações nunca sejam equânimes, há um grande desnível entre o esforço empreendido por cada parceiro.

68 – Deus nos dá nozes, mas não as abre.
Ao que parece, a imagem da noz sendo quebrada é recorrente em Kafka, como se pode ver em uma de suas reflexões:
Quebrar uma noz não é de fato uma arte, e por consequência ninguém se atreveria a reunir um auditório para entretê-lo com isso, porque senão já não se trataria meramente de quebrar nozes.
De que se trataria, então? Basicamente de uma arte de viver.
As nozes são, em essência, as possibilidades. Elas estão por toda parte, mas só alguns sabem aproveitá-las. Todo mundo caminha sob uma imensa nogueira da qual os frutos que pendem são oportunidades por se abrir.
Quando contemplamos as nozes, podemos adotar diferentes atitudes:
• Proativa. Quebramos a noz – exploramos a nova possibilidade – para ter acesso ao fruto.
• Passiva. Esperamos que outro a quebre, de modo que nos convertemos em espectadores das possibilidades alheias.
• Hesitante. Há tantas nozes diferentes na árvore que ficamos indecisos sobre qual devemos pegar.
Cabe ao leitor decidir qual das três atitudes prefere adotar diante das nozes/possibilidades da vida.

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