quarta-feira, julho 30, 2014

KAFKA PARA SOBRECARREGADOS - DE ALLAN PERCY - PARTE 81 E 82


81 – O conhecimento nós já temos. Mas qualquer um que o procure é suspeito de estar contra ele.
Conhecimento nem sempre equivale à sabedoria; às vezes significa exatamente o contrário. A fixação por acumular conhecimento pode até obscurecer nosso olhar sobre o mundo.
Para os pensadores orientais, é imprescindível “desaprender”, livrar-se de muitos conhecimentos adquiridos em forma de preconceitos e lugares-comuns, para olhar a realidade sem os filtros que a distorcem.
O pensador americano Will Durant dizia sobre a diferença entre sabedoria e conhecimento: “O conhecimento é poder, mas só a sabedoria é liberdade.” Dois séculos antes, Immanuel Kant afirmava que “A ciência é conhecimento organizado, mas a sabedoria é vida organizada”.
O que devemos desaprender para alcançar a sabedoria?
• As ideias preconcebidas sobre as pessoas e as coisas.
• As previsões sobre o que alguém fará ou sobre o que acontecerá em determinada situação.
• As opiniões de terceiros que não nos deixam expressar naturalmente nossa própria opinião.
• A falsa crença de que já sabemos tudo o que é necessário sobre qualquer aspecto da vida.
Se abandonarmos todos esses filtros, a clareza 
e a sabedoria chegarão por si sós.

82 – Não se desespere, nem mesmo pelo fato de que não se desespera.
Especialista em compor ambientes opressivos e desprovidos de esperança, Kafka descreveu esta cena em um de seus cadernos:
Encontramo-nos na situação dos viajantes de um trem que para por causa de um acidente e, no ponto em que a luz do início do túnel já não pode ser vista e a luz do fim do túnel é tão pequena e fraca que o olhar deve buscá-la continuamente, perdendo-a vez ou outra, até que chega um momento em que a luz do início e a do fim se convertem em algo incerto.
Esta situação de desesperança – quando perdemos o referencial de onde viemos e tampouco vemos o final – é o que nos assalta nos momentos de crise e dificuldades.
Que fazer quando não vemos a luz no fim do túnel?
O tcheco Vaclav Havel, ganhador do prêmio Nobel da Paz, foi perseguido e preso pelo regime comunista e, décadas depois, chegou à Presidência de seu país. Ele refletia assim sobre esta questão:
Não é no momento da mais profunda dúvida que nascem as novas certezas?
Nesse mesmo sentido, talvez a desesperança seja o adubo que alimenta a esperança humana; talvez nunca experimentássemos o sentido da vida se antes não tivéssemos experimentado seu absurdo. 

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