segunda-feira, dezembro 15, 2014

HERMANN HESSE PARA OS DESORIENTADOS - PARTE 23 E 24


23 – Se um homem não tem nada para comer, o jejum é a coisa mais inteligente a fazer.

Viktor Frankl dizia que “se não está em suas mãos mudar uma situação que lhe causa dor, você sempre poderá escolher a atitude com que enfrentará esse sofrimento”.
A luta constante com a realidade nos esgota e nos deixa sem recursos. Há situações que não podemos mudar, por mais dolorosas que sejam, e por isso mesmo devemos adaptar nossas atitudes para não piorar as coisas.
Em um trecho do romance de mesmo nome, Sidarta diz a Kamala que a única coisa que sabe fazer é pensar, esperar e jejuar. Ela lhe responde que isso não serve de nada. Mas não é verdade.
A tensão com que vivemos faz com que não demonstremos gratidão por aquilo que temos. Esperamos que as mudanças aconteçam com rapidez e nos sentimos frustrados quando as coisas não saem como planejamos. É necessário ter paciência para suportar os momentos difíceis da vida. Se nos aborrecermos com o mundo, só iremos acrescentar amargura e insatisfação ao problema.
O jardineiro da alma deve se planejar: Que posso fazer de útil para resolver essa situação? Responder a essa pergunta é muito mais importante do que maldizer a vida e lamentar a própria sorte.
Quando falta energia, ficamos chateados e queremos que ela volte logo, mas ninguém se lembra de agradecer quando, a cada dia, ligamos o interruptor e a luz se acende ou um aparelho é ligado. Um apagão deveria servir justamente para mostrar a importância da luz, do mesmo modo que uma doença deveria nos ensinar a dar valor à saúde.
É preciso viver de vez em quando a escuridão para aprender a amar a luz.
Aceitar a situação e extrair dela ensinamento é o melhor que podemos fazer nos momentos de crise. Se nos limitamos a exigir que a situação mude, não faremos nada além de aumentar o problema, pois à dificuldade exterior acrescentamos uma interior: o acúmulo de emoções negativas.

24 – A verdade se vive, não se ensina.

Quando o protagonista de Sidarta se encontra cara a cara com o Buda, ele diz estas palavras: “(…) não duvidei nem por um só instante de que o senhor fosse o Buda e houvesse alcançado a meta suprema a que aspiram tantos milhares de brâmanes e filhos de brâmanes. Conseguiu se libertar da morte. E obteve esta liberação, produto das buscas que culminou em seu próprio caminho, através do pensamento, da meditação, do conhecimento e da iluminação. Não através de uma doutrina! Em minha opinião, oh Sublime, ninguém alcança a liberdade através de uma doutrina. Ninguém, oh Venerável, poderá comunicar-lhe com palavras e mediante uma doutrina o que lhe aconteceu no mesmo instante de sua iluminação!”
Sidarta não nega que Buda tenha encontrado sua verdade; o que ele coloca em dúvida é se essa verdade pode ser transmitida através de uma doutrina. Buda não imitou ninguém, nem seguiu ideias de outros; simplesmente aprendeu por si mesmo. Daí emana a verdade.
A busca da verdade é tão antiga quanto o ser humano, e foi nosso motor desde a aurora dos tempos. Se não experimentarmos isso por nós mesmos, nunca chegaremos a nossas verdadeiras respostas.
No conto “O deserto”, Pere Calders conta que um homem um dia viu como a vida lhe escapava. Quis pegá-la e conseguiu agarrá-la com a mão. Daquele dia em diante, não pôde fazer mais nada com medo de deixá-la escapar.
O mesmo ocorre com a verdade. Quando nos dão um caminho no qual nos sentimos seguros, nos apegamos a ele. Deixamos de viver por nós mesmos para seguir algumas diretrizes, alguns ensinamentos que sabemos de cor. Se não nos atrevermos a liberar essas amarras, não chegaremos a saber o que é pensar em liberdade.
A primeira presa de todo caçador da verdade deve ser ele próprio, seu autêntico eu. Ninguém pode nos ensinar quem somos. Devemos descobrir isso por nossos próprios meios. Ninguém pode viver nossa vida por nós. Cada um deve percorrer esse caminho com os próprios pés.
Se só imitamos, se seguimos um discurso que não é o nosso, nunca desvendaremos o grande mistério da existência.
Gandhi disse que a verdade “é totalmente interior. Não é preciso buscá-la fora de nós nem querer realizá-la lutando com violência contra inimigos exteriores”.
Este livro também é apenas um conjunto de sinais e dicas para facilitar o caminho que cada peregrino traça livremente na busca de si mesmo.

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