domingo, junho 08, 2014

KAFKA PARA SOBRECARREGADOS - DE ALLAN PERCY - PARTE 35 E 36


35 – Eu sou o romance. Eu sou minhas histórias.

Nos cursos de escrita criativa, um dos principais conselhos que os aspirantes a romancista recebem é: “Escreva seu próprio romance, não o dos outros.”
Com isso, o professor quer dizer que não faz sentido imitar o que outros pensaram, sentiram ou experimentaram, pois a escrita é um ato criativo individual, como a arte de viver.
Viver é algo estritamente pessoal.
Podemos admirar pessoas que nos servem de exemplo para elaborarmos nossos próprios projetos. Podemos até discutir com elas nossas ideias e escutar seus conselhos, mas as decisões fundamentais de nossa vida apenas nós podemos tomar.Ninguém pode percorrer o caminho em nosso lugar.
Por isso, assim como um escritor é as suas histórias, nós também devemos assumir o papel de roteiristas de nossa própria vida.

36 – Não precisa sair de casa. Limite-se a sentar-se à mesa e escutar.

Franz Kafka dizia que para alcançar a sabedoria basta “escutar, estar tranquilo, silencioso e solitário. Livremente, o mundo se oferecerá a você sem máscara, sem escolha, se abrirá em êxtase a seus pés”.
Esta visão está de acordo com a de Blaise Pascal, que afirmava que todas as desgraças dos homens procedem de uma só coisa: não saberem ficar sozinhos, repousando tranquilamente num quarto fechado.
Este físico, matemático, filósofo e escritor francês acreditava que há uma terrível contradição entre a realidade do que o homem é e aquilo a que ele aspira. O homem aspira à felicidade e só encontra o tédio. Aspira à verdadeira justiça e vê que não a tem. Aspira ao infinito e vê que é mortal. Ele está dividido, sua vida é uma tragédia contínua.
“O homem sente nostalgia de uma felicidade perdida”, dizia Pascal. “A alma do ser humano é um abismo infinito que só o infinito pode preencher.”
Kafka sabia que, após uma jornada de tarefas e problemas, no silêncio e na solidão se encontra essa conexão com o infinito.

quinta-feira, junho 05, 2014

KAFKA PARA SOBRECARREGADOS - DE ALLAN PERCY - PARTE 33 E 34



33 – O dever escolar é você. Não se vê um aluno em parte alguma.

Em uma de suas palestras, o filósofo indiano Jiddu Krishnamurti afirmou que “a autoridade corrompe tanto o aluno quanto o professor”.
Somos viciados em autoridade porque é mais fácil deixar que os outros decidam por nós do que assumir a responsabilidade por nossa própria vida.
As pessoas aprenderam a obedecer à autoridade sem hesitar. Isso faz com que elas deixem de refletir se o que estão fazendo é certo ou errado. E, por esse motivo, acreditam que não sofrem mais por essa dúvida.
No entanto, a autoridade nos impede de evoluir intelectual e espiritualmente. Aprender significa ser livre para escolher e também para errar. Se nos guiarmos por uma autoridade – um guru, um partido político, um time, qualquer instância externa a nós –, não aprenderemos nada. Seremos doutrinados, nos tornaremos meros repetidores daquilo que ouvimos. Podemos até chegar a ser eruditos, mas continuaremos incapazes de aprender.
Como dizia Buda, toda balsa serve somente para nos levar à outra margem. Não faz sentido continuar carregando-a depois de atravessar o rio. O mesmo acontece com os professores: eles nos levam à outra margem, mas cabe a nós explorar os novos territórios. 

34 – Cumpro com meus deveres, mas não com minhas obrigações íntimas – e cada obrigação íntima não cumprida se transforma em uma infelicidade duradoura.


Quais são nossas obrigações íntimas que, se não forem atendidas, se transformam em infelicidade?
Há um texto atribuído a Jorge Luis Borges que define muito bem o que alguém pode sentir ao chegar a uma certa idade sem ter cumprido sua obrigação mais sagrada:
Cometi o pior dos pecados que um homem pode cometer. Não fui feliz. Que as geleiras do esquecimento me arrastem e me levem, sem piedade. Meus pais me engendraram para o belo e arriscado jogo da vida, para a terra, a água, o ar, o fogo. Eu os decepcionei. Não fui feliz. Não cumpri sua vontade. Minha mente se dedicou às perfídias da arte, que tece inutilidades. Legaram-me coragem. Não fui valente. A sombra de minha infelicidade está sempre ao meu lado.
Nesse mesmo sentido, Robert Louis Stevenson, autor de A ilha do tesouro, dizia: “Não há dever de que descuidamos tanto como o de ser feliz.”

quarta-feira, junho 04, 2014

KAFKA PARA SOBRECARREGADOS - DE ALLAN PERCY - PARTE 31 E 32


31 – Crer no progresso não significa que ele tenha chegado.

O termo “utopia” significa um sistema de governo em que tudo está perfeitamente estabelecido. O conceito foi cunhado por Thomas More durante o Renascimento, na obra em que ele descreve uma sociedade irrepreensível numa ilha imaginária chamada Utopia.
A República é o primeiro livro do Ocidente a descrever uma sociedade ideal. Nessa obra, Platão, desiludido com o sistema político ateniense, narra como seria o governo perfeito, tanto em relação à justiça quanto à questão social.
No século XIX surgiu o Socialismo Utópico. Neste caso, seus seguidores não sonhavam com um mundo ideal, mas tentavam pôr em prática uma série de melhorias para os trabalhadores, que estavam praticamente escravizados nas fábricas durante a Revolução Industrial.
E o que dizer das utopias pessoais? Mudar o mundo mostrou-se uma tarefa árdua, mas temos, sim, capacidade de mudar a nós mesmos.

32 – Quando acreditamos apaixonadamente em algo que ainda não existe, nós o criamos. O inexistente é o que não desejamos o suficiente.
O escritor, economista e conferencista Álex Rovira afirma que “o que você crê é o que você cria”. Ou seja, nossos preconceitos e expectativas acabam definindo nossa realidade.
Somos responsáveis pela maioria das coisas que nos acontecem, ainda que frequentemente ponhamos a culpa em outras pessoas por aquilo que não dá certo.
Partindo dessa linha de pensamento, Rovira classifica três maneiras de enfrentar a vida:
• Atitude observadora: quem age assim em geral prefere que os outros assumam o papel ativo em sua vida. São pessoas pessimistas que costumam pensar que não têm controle sobre a própria existência.
• Atitude crítica: quem age dessa forma reclama de tudo e jamais assume a culpa pelas coisas que vão mal. Também são pessoas sem controle sobre a própria vida.
• Atitude ativa: os que têm essa atitude aprendem com tudo o que os cerca. São entusiasmados e positivos, e, é claro, são capazes de manter as rédeas de sua própria vida.

terça-feira, junho 03, 2014

HISTÓRIA: A PELEJA DO VIOLEIRO CHICO BENTO E O RABEQUEIRO ZÉ LELÉ - ILUSTRAÇÃO DOS ALUNOS DO 5º.ANO 2






ALUNA YASMIN COM A PROFª. ROSEMÉRI GUMS DO SAEDE , NA EEBLB - TAIÓ









                                                                                             

PROJETO: BANDEIRAS DOS PAÍSES DA COPA 2014 - COM A PROFª.ROSANE H.VUOLO E ALUNOS DO 3º.ANO - EMI











KAFKA PARA SOBRECARREGADOS - DE ALLAN PERCY - PARTE 29 E 30


29 – A sorte de compreender que o chão sobre o qual você permanece não pode ser maior que os dois pés que o cobrem.

Marco Aurélio, Imperador Romano entre os anos 161 e 180 e filósofo estoico, explica muito bem esta ideia proposta por Kafka. Ele o faz numa de suas célebres Meditações:
Ainda que tuas forças pareçam insuficientes para a tarefa que tens diante de ti, não assumas que está fora do alcance dos poderes humanos. Se algo está dentro da capacidade do homem, crê: também está dentro de tuas possibilidades.
Isso significa que qualquer pessoa é capaz de qualquer coisa? Não necessariamente, mas o fato de alguém ter conseguido algo é a prova de que outros poderão fazer o mesmo.
O primeiro satélite espacial russo abriu caminho para o satélite americano, assim como aconteceu quando o primeiro país comunista do Leste Europeu caiu e os demais o seguiram como peças de dominó.
Em um nível mais modesto e individual, as pessoas que admiramos nos inspiram a seguir seu exemplo e a executar nossos próprios projetos. 

30 – Quem conserva a capacidade de ver a beleza não envelhece.

Embora Franz Kafka tenha sido relacionado a cenários opressivos e a situações absurdas e angustiantes, ele tinha grande sensibilidade para a beleza. De fato, ele assegurava que os jovens são felizes por terem mais capacidade de apreciar o sublime.
Como afirma o filósofo e psicoterapeuta Piero Ferrucci, rodear-se de beleza é uma necessidade vital para o ser humano:
Muitas pessoas têm sede e não sabem disso. Não têm consciência da sede. Não bebem o bastante, e seu corpo experimenta tanta necessidade de água que desidrata. Então, elas sentem mal-estar, mas não sede. O mesmo acontece com a beleza. A necessidade não satisfeita de beleza pode gerar depressão, inquietação, uma profunda sensação de futilidade, uma inexplicável agressividade e diversas patologias. A necessidade de beleza não é reconhecida em nossa sociedade, e isso acarreta enormes males psicológicos e sociais. Como antídoto contra as angústias a que nos submete este mundo prosaico, podemos recorrer à beleza conservada nos museus, às canções que nos emocionam, aos bons livros e às paisagens que tocam teclas profundas da alma. 

domingo, junho 01, 2014

KAFKA PARA SOBRECARREGADOS - DE ALLAN PERCY - PARTE 27 E 28



27 – Há dois pecados capitais no homem, dos quais se originam todos os demais: a impaciência e a indolência.

Já falamos anteriormente sobre a impaciência, que o próprio Kafka explica por meio desta parábola, que também inclui a ideia da indolência:
Foi por causa da impaciência que o ser humano foi expulso do paraíso, ao qual não pode voltar por culpa da indolência. Embora, talvez, o único pecado capital seja a impaciência. A impaciência fez com que o expulsassem, e é por causa dela que ele não regressa.
Vejamos por que a impaciência nos impede de voltar ao paraíso, qualquer que seja ele:
–A impaciência nos faz pensar em objetivos de curto prazo, o que só nos permite resultados de pior qualidade e de menor duração. Os paraísos a que a impaciência nos leva são falsos.
–A pressa nos impede de desfrutar da viagem que nos conduz aos nossos objetivos – viagem esta que deveria ser mais prazerosa que o destino em si.
–A impaciência aumenta a afobação e, consequentemente, a quantidade de erros que cometemos. O que leva também a aumentar o tempo que gastamos para corrigi-los.

28 – A verdade é sempre um abismo.

Franz Kafka utilizava a IMAGEM de uma piscina para falar sobre a verdade. Aqueles que buscam a verdade devem abandonar a superfície da experiência cotidiana para submergir nas profundezas. Após esse mergulho, “rindo e lutando por ar, voltamos à tona, à então duplamente iluminada superfície das coisas”.
Desta reflexão deduzimos que a verdade é algo difícil de extrair, mas que ilumina os que vão em seu encalço até as profundezas do abismo.
O que podemos encontrar se mergulharmos na verdade?
–Sonhos e motivações que enterramos sob o peso das obrigações e da rotina.
–Prioridades que não estamos atendendo porque as urgências consomem todo o nosso tempo e todas as nossas energias.
–Um espelho do que somos e do que estamos fazendo.
Para mergulharmos na piscina da verdade, podemos praticar meditação ou simplesmente arranjar tempo para, em silêncio, prestar atenção ao que está acontecendo em nossa vida.