terça-feira, março 25, 2014

O SOLDADINHO DE CHUMBO DE HANS CHRISTIAN ANDERSEN





O Soldadinho de Chumbo

Numa loja de brinquedo havia uma caixa com vinte cinco soldadinhos de chumbo todos iguais, menos um, ao qual faltava uma perna. Um dia a caixa foi dada de presente a um menino, que ficou maravilhado e logo colocou os soldadinhos em ordem junto ao parapeito da janela. Daí o soldadinho conseguia ver todos os outros brinquedos, entre os quais uma bailarina que estava à porta de um grande castelo de cartão. A bailarina era muito bonita, tinha os braços erguidos em arco sobre a cabeça e uma das pernas dobrada para trás, tão dobrada, mas tão dobrada, que acabava escondida pela saia. O soldadinho apaixonou-se imediatamente e pensou que, tal como ele, aquela menina tão linda tivesse uma perna só.
Um dia, o menino, ao arrumar os brinquedos, deixou que o soldadinho caísse para a rua. O menino foi a correr procurá-lo mas não o encontrou. Pouco depois passaram outros meninos. Um deles viu o soldadinho de chumbo e exclamou: “Um soldadinho! Será que alguém o atirou fora porque ele está partido?” “E que vamos fazer com um soldadinho só? Precisaríamos pelo menos de meia dúzia para fazer uma batalha”, disse o outro rapaz. “Tenho uma ideia”, disse o primeiro. “Vamos colocá-lo num barco e mandá-lo dar a volta ao mundo”. E assim foi. Construíram um barquinho com uma folha de jornal, colocaram o soldadinho dentro e soltaram o barco para navegar na água que corria pela sarjeta.
Apoiado na sua única perna, com a espingarda ao ombro, o soldadinho de chumbo procurava manter o equilíbrio. Com o coração a bater fortemente, o soldadinho voltava todos os seus pensamentos para a bailarina, que talvez nunca mais voltasse a ver. A água ganhou mais corrente e o barquinho de papel andou com mais força. A água caía em cascata para um lago. O soldadinho tentou equilibrar-se mas o barquinho deu um salto e caiu no rio. O barquinho virou e o soldadinho de chumbo afundou-se. Mal tinha chegado ao fundo, apareceu um enorme peixe que, ao vê-lo, o engoliu. O soldadinho estava numa imensa escuridão mas não deixava de pensar na sua amada. Passou-se muito tempo e de repente a escuridão desapareceu. O peixe tinha sido pescado por um senhor e a sua mulher, ao limpá-lo, tirou o soldadinho da barriga do peixe e deu-o ao seu filho para ele juntar aos outros soldadinhos que tinha no quarto.
O menino fez uma grande festa porque era o soldadinho que tinha caído na rua. Juntou-o aos outros na janela, de onde podia ver sempre a sua bailarina.


Texto adaptado por Sónia Santos e Ricardo Domingos

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