quarta-feira, julho 27, 2011

MONÓLOGO DAS MÃOS



Monólogo das mãos

de Odulvado Viana escrito
 para Procópio Ferreira,
parte integrante de :
O Vendedor de Ilusões!

Para que servem as mãos?

As mãos servem para pedir, prometer, chamar, conceder,
 ameaçar, suplicar, exigir, acariciar, recusar, interrogar, 
admirar, confessar, calcular, comandar, injuriar, incitar, 
teimar, encorajar, acusar, condenar, absolver, perdoar, 
desprezar, desafiar, aplaudir, reger, benzer, humilhar, 
reconciliar, exaltar, construir, trabalhar, escrever..

A mão de Maria Antonieta, ao receber o beijo de Mirabeau,
salvou o trono da França e apagou a auréola do famoso
 revolucionário; Múcio Cévola queimou a mão que,
 por engano não matou Porcena; foi com as mãos 
que Jesus amparou Madalena; com as mãos David 
agitou a funda que matou Golias; as mãos dos Césares
 romanos decidiam a sorte dos gladiadores vencidos na arena; 
Pilatos lavou as mãos para limpar a consciência; e assim
 a imagem de nosso senhor Jesus Cristo pregado na 
cruz nos persegue vida a fora como imagem de morte 
e gloria, tanto que os anti-semitas marcavam a porta 
dos judeus com as mãos vermelhas como signo de morte!

E com as mãos assim acaricia-se, trazendo para mais
 perto o corpo da pessoa amada, mais perto do amor,
 mais perto do sexo e de repente ela se torna em repulsa,
 horror, terror e com medo ela se protege, não, 
por favor não. Minha culpa? Minha culpa minha 
máxima culpa, Eu juro!

Foi com as mãos que Judas pôs ao pescoço o laço 
que os outros Judas não encontram. A mão serve 
para o herói empunhar a espada e o carrasco,
 a corda; o operário construir e o burguês destruir;
 o bom amparar e o justo punir; o amante acariciar 
e o ladrão roubar; o honesto trabalhar e 
o viciado jogar. Com as mãos atira-se um beijo 
ou uma pedra, uma flor ou uma granada, uma 
esmola ou uma bomba! Com as mãos o agricultor 
semeia e o anarquista incendeia!

As mãos fazem os salva-vidas e os canhões; 
os remédios e os venenos; os bálsamos e os instrumentos 
de tortura, a arma que fere e o bisturi que salva.
 Com as mãos tapamos os olhos para não ver, e com 
elas protegemos a vista para ver melhor. Os olhos
 dos cegos são as mãos. As mãos na agulheta do 
submarino levam o homem para o fundo como 
os peixes; no volante da aeronave atiram-nos para 
as alturas como os pássaros.

O autor do "Homo Rebus" lembra que a mão foi o 
primeiro prato para o alimento e o primeiro copo 
para a bebida; a primeira almofada para repousar 
a cabeça, a primeira arma e a primeira linguagem. 
Esfregando dois ramos, conseguiram-se as chamas. 
A mão aberta, acariciando, mostra a bondade; fechada
 e levantada mostra a força e o poder; empunha 
a espada a pena e a cruz!

Modela os mármores e os bronzes; da cor às telas e
 concretiza os sonhos do pensamento e da fantasia 
nas formas eternas da beleza. Humilde e poderosa no
 trabalho, cria a riqueza; doce e piedosa nos afetos 
medica as chagas, conforta os aflitos e protege os fracos.
 O aperto de duas mãos pode ser a mais sincera 
confissão de amor, o melhor pacto de amizade 
ou um juramento de felicidade. O noivo para 
casar-se pede a mão de sua amada; Jesus abençoava 
com a s mãos; as mães protegem os filhos
 cobrindo-lhes com as mãos as cabeças inocentes.

Nas despedidas, a gente parte, mas a mão fica, 
ainda por muito tempo agitando o lenço no ar. Com as mãos 
limpamos as nossas lágrimas e as lágrimas alheias.
 E nos dois extremos da vida, quando abrimos os 
olhos para o mundo e quando os fechamos para
sempre ainda as mãos prevalecem. Quando nascemos,
 para nos levar a carícia do primeiro beijo, são as mãos 
maternas que nos seguram o corpo pequenino.

E no fim da vida, quando os olhos fecham e o coração pára,
 o corpo gela e os sentidos desaparecem, são as mãos, 
ainda brancas de cera que continuam na morte as funções da vida.

E as mãos dos amigos nos conduzem...

E as mãos dos coveiros nos enterram!

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