quinta-feira, março 10, 2011

SAPATINHOS DE CRISTAL - MARAVILHOSOS CONTOS DE FADAS

"As contadoras de história dedicadas estão sempre longe, aos pés de algum morro, afundados até os joelhos na poeira das histórias, retirando séculos de sujeira, escavando camadas de culturas e de conquistas, classificando cada friso e cada afresco de história que possam encontrar. Às vezes a história foi reduzida a pó, às vezes porções e detalhes estão faltando ou foram perdidos; com frequência, a forma está intacta, mas o espírito está destruído. Mesmo assim, toda escavação traz em si a esperança de se encontrar uma história inteira, intacta". Clarissa Pinkola Estes


Os contos de fadas, que podem ter ou não a presença de fadas no seu enredo surgiram há muito tempo.
Quem lê A gata borralheira hoje não imagina que a mais antiga versão, que se tem notícia, foi encontrada na China, entre os diversos manuscritos datados do século VII. Mas também existe a versão egípcia, a coreana, dos índios Ojibwa (tribo dos EUA), do folclore brasileiro...Que se têm perpetuado há milênios, atravessando toda a força e a perenidade do folclore dos povos, sobretudo, através da tradição oral.
Uma das  primeiras compilações européias a conter contos de fada foi a do napolitano Giambattista Basile, erudito e aristocrata, talentoso narrador e observador atento da cultura popular. Em seu livro, de 1634, O conto dos Contos( Lo cunto de li Cunti), que tem como subtítulo O Pentameron(Il Pentamerone), existem contos que deram origem a histórias muito conhecidas: de “Sol, Lua e Tália” surgiu “A Bela Adormecida”, de “Zezolla” nasce “A gata borralheira”; de “Cogluso” temos “O Gato de Botas”... A obra possui a estrutura de um conto-dentro-do-conto e tem como narrativa-moldura,a história de Zoza, a princesa melancólica que nada fazia rir.
Com uma prosa fluida, rica em imagens e metáforas (como o território das fadas bem exigem), Giambattista Basile soube exaltar a magia que rege a possibilidade de transformação da fortuna dos menos privilegiados e que passivamente se entregam à sorte e às vicissitudes da vida. Esta é a filosofia a imperar em um mundo instável que oferece somente a imaginação como recurso de uma nova lei.
Basile contribuiu muito para o gênero contos de fada, com o emprego de narradores vindos de classes mais baixas. Assim se fazia referências à cultura popular e à vida comum no fim da Renascença italiana e à sátira da cultura da corte e da literatura, tendo criticado em especial o comportamento aristocrático de seu tempo. E seus contos com certeza estavam distantes dos ideais de ‘felizes para sempre’.
Robert Darnton, historiador norte-americano, no seu livro La gran matanza de gatos: y otros episodios en la historia de la cultura francesa, nos informa sobre o que acontecia na França durante esse período. E que vai se refletir nos contos de fada.
"Si el mundo es cruel, la villa sórdida, y la humanidad está infestada de pícaros, ¿qué se puede hacer? Los cuentos no ofrecen una respuesta explícita, pero ilustran lo adecuado del antiguo provérbio francês Se debe aullar con los lobos."
Como historiador etnográfico, Darnton se ocupa da "gente comum" e não somente da historia dos personagens conhecidos ou poderosos. Investiga como as pessoas organizam a realidade no imaginário e como o expressa em sua conduta. O autor tenta reafirmar que, sem sermões nem morais, os contos franceses mostravam que o mundo era cruel e perigoso e, além disso, eram sinais de advertência não destinados às crianças, pelo menos não exclusivamente. Pois ninguém considerava às crianças como criaturas inocentes nem à infância uma etapa diferente da vida, que pudesse distinguir-se da adolescência, da juventude e da idade adulta. Na verdade, o conceito de infância tal qual a conhecemos hoje só passa a existir a partir do século XVIII.
Foto: Sapatos de cristal do estilista Martin Margiela.

Um comentário:

  1. Oi querida!
    Estou no último periodo do meu curso de Pedagogia!
    estou trabalhando "Conto e reconto na educação infantil", no meu trabalho de conclusão.
    Tô encantada, quando escolhemos trabalhar este tema, não imagina o mundo fantastico que existia por trás disso! Estou lendo o Livro "A renovação do conto", da Maria de Lourdes Patrini. A autora fala da importância que vocês bibliotecarios, tem no conto e reconto!
    Estarei sempre por aqui!
    Abraços

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