segunda-feira, dezembro 08, 2014

HERMANN HESSE PARA OS DESORIENTADOS - PARTE 15 E 16



15 – A escola não ensina as destrezas e habilidades que são imprescindíveis para a vida.

Um livro publicado por Paul Arden, Não basta ser bom, é preciso querer ser bom, dedica um capítulo a uma pergunta surpreendente: por que os melhores da turma não triunfam?
Este publicitário afirma que muitos alunos exemplares fracassam ao ingressar na vida adulta e não desempenham os trabalhos brilhantes que eram esperados, enquanto que garotos e garotas com resultados escolares medíocres acabam realizando grandes feitos. Por quê?
Segundo Arden, na escola só se aprendem lições do passado, feitos já conhecidos. Quanto mais fatos são lembrados, melhores notas os alunos tiram. Os que fracassam na escola não estão interessados no passado, talvez porque pensem no futuro.
Ou simplesmente não têm boa memória, o que não significa que não terão sucesso diante dos desafios que a vida colocará em seu caminho.
Em Debaixo das rodas, Hesse aponta esta mesma questão:
“Um professor de escola prefere alguns tantos burros em sua turma a um só garoto genial. E no fundo ele tem razão, porque seu dever não é formar espíritos extravagantes, mas bons latinistas, matemáticos e homens bem-sucedidos.”
Afinal, a escola da vida é aquela que nos coloca à prova no dia a dia, e precisamos estar sempre dispostos a aprender e a melhorar nossas notas.

16 – Os mortos permanecem vivos entre nós, com o essencial de suas influências, enquanto nós seguimos vivendo. Às vezes podemos falar com eles, conversar e pedir conselhos, melhor do que com os vivos.

O ser humano vai acumulando experiências – próprias e compartilhadas – ao longo de sua existência. Não caminhamos sozinhos e os que nos rodeiam deixam suas marcas em nós. Por vezes, algumas pessoas acabam se tornando nossas conselheiras.
 Lembro-me de um homem que sempre que tinha um problema consultava uma amiga em especial. Ia visitá-la e conversavam. Durante essas conversas, ela abria um pacote de biscoitos. Isso acabou se transformando em parte do ritual. Sem se dar conta, quando não podia estar com ela para falar sobre algum problema, ele abria um pacote de biscoitos. Era sua forma de reviver o vínculo, mesmo que não estivesse ao lado dela.
As pessoas do passado influenciam nosso presente e as do presente provavelmente influirão em nosso futuro. Algumas nos acompanham ao longo do caminho e outras, não, mas todas são parte do nosso kit de sobrevivência espiritual.
Em Demian há uma passagem que ilustra essa ideia com perfeição. Quando Demian está morrendo, diz ao seu amigo Sinclair que talvez vá necessitar dele outra vez, mas que não irá de trem ou a cavalo – isto é, já estará morto e não poderá comparecer em carne e osso. Dirige a ele palavras muito emotivas: “Terá que escutar a si mesmo e então dirá para si que estou dentro de você.”
Assim como Sinclair, estamos acostumados a ter alguém que nos acolha e nos guie em momentos difíceis da vida, mas frequentemente o melhor mestre está dentro de nós mesmos. O que vivemos, sozinhos e com os outros, fica conosco, nos dá sabedoria e capacidade de reflexão.
Há uma pequena reflexão sobre isso no filme Peixe grande e suas histórias maravilhosas, onde o narrador diz: “Um homem conta tantas vezes suas histórias que acaba se transformando nessas histórias. Continuam vivendo quando ele não está mais lá. Dessa forma, o homem se torna imortal.”
É uma forma poética de dizer que aqueles que foram continuam vivos e nos guiam, como Demian com seu amigo Sinclair.

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