84 – O que não nos mata nos fortalece
Em seus últimos anos, Sigmund Freud disse as célebres palavras:
“Agradeço à vida por nada ter sido fácil para mim.”
Ainda que a existência do criador da psicanálise tenha sido repleta de dificuldades, indivíduos como o neuropsiquiatria francês Boris Cyrulnik – que escapou ainda criança do campo de concentração onde morreu toda a sua família – passaram por circunstâncias muito mais dramáticas. Porém, em vez de causar sua destruição, essas experiências aumentaram sua força e fizeram dele uma pessoa mais sábia.
Trata-se de um processo chamado resiliência, que Cyrulnik comenta em Os patinhos feios:
A resiliência é a arte de navegar pelas correntezas. Um trauma transtornou o ferido e o conduziu numa direção na qual preferia não ter ido. Pelo fato de ter caído em uma corrente que o arrastou e o levou até uma cascata de problemas, o resiliente recorrerá aos recursos internos impregnados em sua memória e deverá lutar para não se deixar arrastar pelo curso natural dos traumas.
Se a correnteza não nos mata, como diz Nietzsche, acabamos ganhando uma experiência essencial que nos ajudará a salvar a nós mesmos e às demais pessoas em futuras provações.
85 – Quem vê mal sempre vê pouco. Quem escuta mal sempre escuta demais
No poema intitulado “Razões adicionais para os poetas mentirem”, Hans Magnus Enzensberger criticou o uso que os seres humanos fazem da linguagem, nem sempre utilizada em prol da verdade.
Ele disse, por exemplo, que “o instante em que a palavra feliz é pronunciada nunca é o instante da felicidade”, talvez porque a felicidade exija uma entrega de todos os nossos sentidos para que possamos vivenciá-la. No momento em que queremos capturá-la, analisá-la e rotulá-la, permitimos que nos escape.
Sobre isso, o escritor e filósofo Eric Hoffer comentou: “A busca da felicidade é uma das principais fontes de infelicidade.” E o dito popular nos aconselha: “Se você quer ser feliz, não analise.”
Quando racionalizamos as vivências e buscamos intenções para elas, perdemos sua essência. Por isso Nietzsche nos lembra que, às vezes, só ouvimos o que queremos ouvir, já que o murmúrio das nossas ideias preconcebidas se sobrepõe à realidade, sempre mais simples que a opinião que formamos dela.
O exercício do filósofo – e de todos que desejam pensar com clareza – é corrigir sua visão para que seja a mais abrangente possível e não ceder às opiniões da maioria.
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