terça-feira, novembro 25, 2014

HERMANN HESSE PARA OS DESORIENTADOS - PARTE 03 E 04


3 – Quando odiamos alguém, odiamos em sua imagem algo que está dentro de nós.

Este aforismo de Hermann Hesse me faz lembrar de uma história ocorrida na época em que eu era consultor numa editora. Embora publicássemos livros sobre crescimento pessoal, no departamento editorial havia um ambiente de tensão devido aos constantes embates entre o diagramador e a editora de texto.
Ambos eram jovens, e eu não entendia de onde saía tanta hostilidade mútua. Comentei essa situação com um amigo que trabalhava em uma fábrica e, talvez por estar tão distante do mundo sobre o qual eu falava, ele me deu uma explicação surpreendente: “Isso acontece porque eles se gostam.”Semanas depois soube que, de fato, eles haviam iniciado um romance.
Voltando ao sábio aforismo de Hesse, muitas pessoas acreditam equivocadamente que o ódio é o oposto do amor, quando a única coisa que é contrária ao amor é a indiferença. O que não amamos não existe para nós. Se um país não nos atrai, simplesmente nunca pensamos nele.
Quando odiamos alguém, é porque essa pessoa possui algo que nos toca profundamente e nos provoca mal-estar. Esse alguém está espelhando algo que há dentro de nós e que não queremos reconhecer. Se não fosse assim, não nos incomodaria tanto.
Desse modo, o invejoso sofre a inveja alheia com mais intensidade do que qualquer um; o indiscreto se irrita de forma desproporcional quando sofre uma indiscrição.
A pessoa que odiamos é o nosso espelho e, portanto, um mestre espiritual que não devemos desprezar. O ódio é uma deformação do amor, mas é amor, no fim das contas. E, se temos amor, também temos a capacidade de transformá-lo em algo positivo, como a editora e o diagramador que trocaram as discussões por uma aventura amorosa.
Talvez brigassem porque o amor, ao ser detectado, produz medo, e esse medo muitas vezes se disfarça de aversão. Portanto, na próxima vez que você sentir ódio de alguém, pergunte a si mesmo o que esse sentimento está refletindo e qual é a lição que ele tem a ensinar. Depois examine aquilo de que não gosta em si mesmo e tente livrar-se disso.
Certa vez, quando um jornalista perguntou ao ator John Malkovich sua opinião sobre os movimentos de extrema direita, ele respondeu: “Não me preocupo com o nazista que cruza comigo na rua. O que me preocupa é o nazista que vive dentro de mim.”
4 – Quando tememos alguém, concedemos a esse alguém poder sobre nós.
Frequentemente estamos mais atentos aos outros do que a nós mesmos e lutamos de forma absurda para ter a aceitação alheia, como se nosso valor só pudesse ser estabelecido por pessoas que mal nos conhecem.
Dar aos outros esse poder gera insegurança e faz com que estabeleçamos vínculos doentios com eles. No entanto, a única aprovação de que necessitamos está em nós mesmos. Se não temos autoconfiança, se não temos certeza do que fazemos, como esperamos que os demais nos aprovem?
É preciso aprender a amar a si mesmo, a reconhecer-se e a aceitar-se, apesar de suas imperfeições – que, na realidade, são caminhos a percorrer. Só assim você deixará de temer os outros e de ser afetado por suas opiniões. Na verdade, com frequência os outros nem sequer têm uma opinião sobre nós. Nós é que ficamos obcecados em saber o que pensarão a nosso respeito.
Como dizia Hermann Hesse, cada ser humano é responsável por seu jardim e pinta em sua mente a aquarela do que deseja ser. Quando deixamos de depender dos outros e de nos comparar a eles, descobrimos que somos donos da nossa vida. 

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