69 – Cronos, o mais honesto dos pais, devorou seus filhos.
Na mitologia grega, Cronos era o deus do tempo, das idades e do Zodíaco. Era um deus incorpóreo, que criara a si mesmo no início dos tempos.
Seu correspondente na mitologia romana é Saturno, retratado no célebre – e horripilante – quadro de Goya.
Cronos sabia que estava condenado a ser destronado por um de seus filhos. Por essa razão, comia sua prole assim que nascia. Contudo sua esposa, Reia, certa vez conseguiu enganá-lo, dando a ele uma pedra envolta em tecidos. Cronos caiu na armadilha, e com isso Zeus se salvou. Zeus foi criado em segredo por coribantes e ninfas. E, para que o pai devorador não o descobrisse, cada vez que Zeus chorava os coribantes provocavam alvoroço junto ao leito do menino para que não se ouvisse seu choro. Vejamos qual é o ensinamento no mito de Cronos ou Saturno: o tempo nos devora, e por isso devemos aproveitá-lo ao máximo. Cada ação valiosa que realizamos no dia a dia é uma pedra na boca do velho deus, pois o tempo só passa inutilmente para aqueles que querem perdê-lo.
70 – Não deixam de ter razão os movimentos espirituais revolucionários que questionam a relevância do anterior, já que, de fato, ainda não aconteceu nada.
É preciso fazer muita coisa ainda:
varrer o quintal, regar as margaridas,
sacudir as asas e pintá-las de novo
com as cores que nos empresta o dia.
Cantar ao som do violão
e lançar ao vento as sementes
e aconchegar num altar secreto
as novas lições que nos reserva o dia.
É preciso fazer muitas coisas;
retomar a canção velha e perdida,
beber suas águas, caminhar por sua terra
enquanto sabemos que ainda é nosso o dia.
E aprisionar a sombra
(ela sofre terríveis pesadelos),
pois é nostálgica e cheia de loucuras,
e nos torna trágicos em pleno dia.
É preciso fazer muitas coisas!
Abrir o sol, levantar nossas cortinas,
que já teremos tempo suficiente
de beber sombras quando finda o dia.
Matilde Casazola
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