Foto de Rafael Silva. |
Panorama do Haicai Nacional: A. A. de Assis
ASSIS, O HAICAI COM HUMOR E LEVEZA
Por José Marins
A. A. de Assis, mestre da trova (o trovador mais premiado do Brasil), é também um haicaísta dono de estilo que cativa com humor e simplicidade. E quando penso em karumi (leveza e fluência), lembro do Assis. Seus poemas mais longos, as trovas, os haicais, trazem a nuança do contentamento. Seus “triversos” veiculam um humor fino e satírico. Ex-professor de Letras na Universidade de Maringá-PR, onde mora há mais de 50 anos, Assis é membro ativo da fraternidade dos trovadores brasileiros. Seus livros e livretos podem ser encontrados na Internet na forma de e-books.
**********************************************************
José Marins - Como você chegou ao haicai?
A. A. de Assis - Cheguei ao haicai por amor à síntese e porque o metro 5-7-5 soava mágico em meus ouvidos. Os primeiros que li atentamente e que me fascinaram foram os do Guilherme de Almeida. Por ter "ouvido de violeiro", como dizia meu avô, o haicai rimado me parecia "uma trova de três pernas", uma deliciosa cançoneta magistralmente construída. Desde muito jovem ingressei, porém, na tribo dos trovadores, por isso me dediquei prioritariamente à produção de quadras. Em relação ao haicai, a trova tem para mim a vantagem de ser um campo mais aberto: basta colocar uma ideia interessante (lírica, humorística ou filosófica) num poema de quatro redondilhas, rimando o primeiro verso com o terceiro e o segundo com o quarto. O haicai tem outras exigências, que ainda tento entender. Mas um dia chego lá...
JM - Você é um mestre da trova, um dos trovadores mais premiados do Brasil, que relações vê entre a trova e o haicai?
AA -
JM - Sempre notei o contentamento como a marca de seus poemas. No seu haicai ele aparece como humor e leveza. Como é o seu fazer haicaístico? Já pensou em publicar seus haicais em livro?
AA - Esse é, aliás, um problema que encontro em minhas tentativas de fazer haicai. Sou, por índole, um poeta lírico e brincante, daí a dificuldade de me encaixar nas normas rígidas do haicai canônico. Talvez por timidez, tenho até chamado aos meus tercetos de "triversos", na esperança de assim evitar que os mestres do haicai tradicional me puxem as orelhas... Porém gosto demais dos haicais certinhos, que seguem à risca as boas regras. Sobre publicar um livro de haicais, pode ser que algum dia isso aconteça, mas preciso amadurecer um pouco mais nessa arte. Para tanto, venho acompanhando com especial carinho e atenção o trabalho de alguns professores muito queridos, entre os quais destaco José Marins, de Curitiba, e Lena Jesus Ponte, de Niterói.
Haicais de A. A. de Assis:Por José Marins
A. A. de Assis, mestre da trova (o trovador mais premiado do Brasil), é também um haicaísta dono de estilo que cativa com humor e simplicidade. E quando penso em karumi (leveza e fluência), lembro do Assis. Seus poemas mais longos, as trovas, os haicais, trazem a nuança do contentamento. Seus “triversos” veiculam um humor fino e satírico. Ex-professor de Letras na Universidade de Maringá-PR, onde mora há mais de 50 anos, Assis é membro ativo da fraternidade dos trovadores brasileiros. Seus livros e livretos podem ser encontrados na Internet na forma de e-books.
**********************************************************
José Marins - Como você chegou ao haicai?
A. A. de Assis - Cheguei ao haicai por amor à síntese e porque o metro 5-7-5 soava mágico em meus ouvidos. Os primeiros que li atentamente e que me fascinaram foram os do Guilherme de Almeida. Por ter "ouvido de violeiro", como dizia meu avô, o haicai rimado me parecia "uma trova de três pernas", uma deliciosa cançoneta magistralmente construída. Desde muito jovem ingressei, porém, na tribo dos trovadores, por isso me dediquei prioritariamente à produção de quadras. Em relação ao haicai, a trova tem para mim a vantagem de ser um campo mais aberto: basta colocar uma ideia interessante (lírica, humorística ou filosófica) num poema de quatro redondilhas, rimando o primeiro verso com o terceiro e o segundo com o quarto. O haicai tem outras exigências, que ainda tento entender. Mas um dia chego lá...
JM - Você é um mestre da trova, um dos trovadores mais premiados do Brasil, que relações vê entre a trova e o haicai?
AA -
Costumo pensar que a trova é o haicai brasileiro... ou o haicai é a trova japonesa. São duas maneiras de em poucas palavras dizer com graça e criatividade o suficiente. Duas modalidades de poesia adequadas aos tempos modernos, talvez as únicas com chance de sobrevivência em meio à lufa-lufa das novas gerações.Além disso, são desafiantes, visto não ser qualquer pessoa que consegue colocar tanto conteúdo em tão diminutos recipientes.
JM - Sempre notei o contentamento como a marca de seus poemas. No seu haicai ele aparece como humor e leveza. Como é o seu fazer haicaístico? Já pensou em publicar seus haicais em livro?
AA - Esse é, aliás, um problema que encontro em minhas tentativas de fazer haicai. Sou, por índole, um poeta lírico e brincante, daí a dificuldade de me encaixar nas normas rígidas do haicai canônico. Talvez por timidez, tenho até chamado aos meus tercetos de "triversos", na esperança de assim evitar que os mestres do haicai tradicional me puxem as orelhas... Porém gosto demais dos haicais certinhos, que seguem à risca as boas regras. Sobre publicar um livro de haicais, pode ser que algum dia isso aconteça, mas preciso amadurecer um pouco mais nessa arte. Para tanto, venho acompanhando com especial carinho e atenção o trabalho de alguns professores muito queridos, entre os quais destaco José Marins, de Curitiba, e Lena Jesus Ponte, de Niterói.
Na foto, a saudade
vestida de azul e branco.
Uma normalista
Chuva de granizo.
O pasto, visto de longe,
vira algodoal.
No velho relógio
viu as horas meu avô.
Hoje as vê meu neto.
Meados de outono.
Hora de a gente tirar
as meias do armário.
Os passantes param.
Carregadinhos de flores
os jacarandás.
Repicam os sinos.
Os mesmos de nós meninos,
na velha matriz.
Um deserto azul,
sem uma nuvem sequer.
Céu de inverno seco.
Ela abre e fecha
qual se fosse um livrozinho.
Uma borboleta.
Beleza, beleza.
Caqui chegou farto aqui
e adoçou a mesa.
No topo do poste
uma pipa pendurada.
Leva um pito o piá.
No meio do pasto
um ponto de exclamação.
Último coqueiro.
QUERIDA TEM UM MIMO DE SELINHO EM MEU BLOG PARA VC .
ResponderExcluir