domingo, março 13, 2011

HAICAIS DE JOSÉ MARINS

manhã no parque
refletido na lagoa
um ipê florido

estrada florida
os passos vão devagar
junto com a brisa

sol de fevereiro
o prateado da tilápia
na ponta da linha

apago a lanterna
na barraca surge a luz
de um vaga-lume

começo da tarde –
na banana sobre o muro
um sanhaço azul

 tardinha de maio
o sol se foi dos vitrais
e a noiva não veio

domingo no parque
barulho de folhas secas
entre os caminhantes

gato na varanda
vê o cachorro se molhar
garoa de manhã



toró todo dia
mas só hoje descobri
as novas goteiras
jm-27-1-10
velha Curitiba
seu calorão afinal
por todos os lados

o dia termina ---
cada vez mais azuleste
céu de outono
jm-16-3-10

um, três serelepes
rápidos no sobe e desce
desde bem cedinho
jm-17-3-10

Haicais de José MarinsFonte:http://fieiradehaicais.blogspot.com/



O Haikai em sala de aula segundo a opinião de José Martins


Na opinião de MARINS (2007) sobre o assunto, diz o haicaísta que o haikai contém em sua forma, ou melhor, em seu formulário tudo que precisamos para aprender poesia. Acrescenta que fazer um poema nos moldes de um haikai implica em um aprendizado que envolve os elementos básicos de um poeta: vivência, percepção, observação treinada, conhecimento da sintaxe poética (métrica, ritmo, algumas figuras de linguagem, etc.), o apuro da linguagem e ao mesmo tempo manter também a simplicidade, a pureza do momento do haikai captado, ou seja, sem intelectualizar, sem tornar mental ou sentimental demais.
MARINS (2007) afirma com toda segurança que existe uma educação pelo haikai. E essa educação vai além da didática pura e simples, da prática do poema e do saber realizá-lo. Diz que com o fato de que por ser o haikai uma poesia ligada às estações do ano, à natureza e a vivências humanas, pode-se dizer que é uma poesia ecológica, ligada radicalmente ao meio-ambiente, à sua contemplação, aos seus movimentos sazonais.
Diz ainda que uma didática do haikai na escola deve começar com um passeio com os alunos e o professor para que exista de fato um contato deles com a natureza, a oportunidade da observação, do registro das cenas, da escolha dos detalhes. Depois disso, continua MARINS, praticar o haikai como poema, resgatar as cenas vivenciadas pela sensibilidade poética de cada aluno, buscar a espontaneidade do registro na percepção, na memória, do momento do haikai.
Outro detalhe, diz MARINS, é verificar que kigo se está trabalhando. Em seguida, acrescenta, é só ir com calma, ensinando o uso da métrica 5-7-5 sílabas poéticas. A apresentação dos trabalhos entre os parceiros é parte da didática. Receber o apreço e a colaboração dos colegas é outro aspecto indispensável na prática do haikai. Assim era feito antigamente, já no tempo do mestre Basho. Lembrando sempre de valorizar o poema e não a pessoa do poeta. Não se incentiva a vaidade na prática haicaística.
A respeito da questão se o poeta nasce da inspiração ou se há um processo para que ele se torne um, MARINS (2007) disse que inspiração é algo aprendido. Ele não crê nessa história de nascer-se poeta. Para ele, o poeta se faz em suas buscas, pode haver uma tendência para a poesia, como um traço da personalidade do sujeito que ele terá que desenvolver. A sensibilidade, por exemplo, pode ficar lá dormindo no fundo do inconsciente, até que surge o momento de expressar-se, levando-se em conta o ambiente da pessoa.
MARINS diz que a inspiração do haicaísta vem do contato com a natureza sempre, sua principal fonte de vivências, então, primeiro vem a vivência junto à natureza. Se uma pessoa nunca viu uma cerejeira em flor, como fazer um poema a respeito dela? Já aconteceu a ele, muitas vezes ter uma vivência (seja visual, auditiva, sensorial sempre) e "receber" o haikai pronto. Mas é provável que isso, no haikai, seja a percepção treinada e não inspiração. Ele Diz ainda que talvez a inspiração venha a colaborar no uso da palavra poética que vai realizar o poema haikai.
MARINS relatou que conhece um professor que até já deu curso de haikai e que conhece sobre o assunto, mas nunca escreveu um único poemeto, alegando que não consegue fazê-lo. Bloqueia-se com uma visão pessimista de que só poderia fazer haikai se conhecesse a língua japonesa. Para MARINS, isso é um grande erro, pois crê muito mais na simultaneidade, que é o aprendizado e que ele preza muito.
Ele justifica que só se aprende a fazer haikais fazendo haikais. Essa condição de se estudar antes para depois praticar é ilusória, acrescenta. Ensaio é erro e acerto, esse é o caminho de um haijin, arremata.
Hoje em dia, MARINS diz que faz um haikai mais seu, seu estilo, sua marca, mas que foi uma longa caminhada, e mesmo assim ainda acha tem que aprender muito mais ainda. Vive sonhando com o dia em que vai se encontrar com os haikais de Onitsura, que considera um grande mestre e que só pôde ler alguns dos haikais dele.
MARINS comenta que entre os japoneses ocorre algo interessante: muitos passam a vida inteira sem ter feito um único haikai (apenas lido), então, chegam à velhice e partem para o haikai com uma sede enorme e fazem milhares deles. “Dizem que fazer haikai na velhice ajuda a manter o cérebro funcionando direito! Pelo menos para mim o haikai endireita o poeta, finaliza.

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