O presente blog tem por objetivo maior divulgar o trabalho feito na EEB."Leopoldo Jacobsen", no município de Taió, por Tânia Míriam, na Contação de Histórias,Direção,todos os Professores e Colaboradores da Escola. O Projeto 1001 Contos nasceu em 2005, quando os alunos vinham trocar os livros. Logo, vimos a necessidade de algo mais para despertar o gosto pela leitura. Nada mais eficaz do que contar histórias para encantar.
segunda-feira, fevereiro 28, 2011
domingo, fevereiro 27, 2011
LEITURA COM TODOS OS SENTIDOS E EM TODOS OS SENTIDOS
Lê-se com os olhos, e também com o olfato, com o paladar, com o ouvido, com o tato. Com todo o corpo e não só com as partes “altas” privilegiadas pela hierarquia dos sentidos impostas pela tradição metafísica: os olhos e a mente […]. A tarefa de formar um leitor é multiplicar suas perspectivas, abrir suas orelhas, afinar seu olfato, educar seu paladar, sensibilizar seu tato, dar-lhe tempo, formar um caráter. O único que pode fazer um professor de leitura é mostrar que a leitura é uma arte livre e infinita que requer inocência, sensibilidade, coragem. NIETZSCHE
Quando vemos um livro, dependendo do grau de intimidade com esse objeto, podemos bocejar, espirrar, suspirar. Mas a atitude majoritária é ignorar, pois o livro não está no imaginário do povo brasileiro e não faz parte do sonho de consumo da população.
Os fatores são muitos para afastar o leitor do livro: falta de bibliotecas públicas bem equipadas, poucas livrarias no país, inexistência de programas na TV, rádio, internet que ajudem a formar leitores, livros com preços astronômicos e principalmente carência de mediadores de leitura que compreendam a Literatura como uma arte.
Ler é uma atividade muito complexa e desenvolver o prazer da leitura, normalmente entendido apenas como entretenimento, não é uma tarefa fácil, pois requer conhecimento de autores, estilos e gêneros literários. Mas só isso não basta, se o mediador não tiver introjetado que a leitura precisa colocar em ação todos os sentidos humanos.
TATO
É preciso ler com dedos delicados, mesmo que às vezes seja necessário ler com os punhos. NIETZSCHE
O tato sempre foi um sentido coberto de pudor e preconceito. As dificuldades com o próprio corpo se refletem na relação com o outro. Ele é instintivo, não racional, tanto que é o primeiro sentido desenvolvido no feto, que reage ao estímulo dentro do útero. E quem estuda o assunto diz que é o mais social dos sentidos humanos, pois dá a dimensão das coisas, refletindo o que vem do nosso interior. Basta lembrar da pele arrepiada ao ouvir uma declaração de amor. Porém, cada vez mais a sociedade vem colocando esse sentido em segundo plano, nesse novo mundo virtual.
Para a leitura isso é um paradoxo, pois o ato de escrever começa a existir através dos dedos, seja na escrita à mão ou na digitação.
Já para o livro é o sentido que promove a primeira ação educativa que fazemos com as crianças ao ensiná-las a virar as páginas, apurando a sensibilidade de seus dedos. Ato que se repetirá e refinará ao longo da vida.
Também a falta de intimidade com o livro se mostra pelo tato, quando observamos alguém que não sabe de que maneira segurá-lo.
E sua relação é tão profunda com a leitura que possibilita ao cego o acesso à literatura, através do método Braille.
Só que é difícil encontrar nos livros imagens táteis descritas. Há visuais, auditivas, olfativas, mas raramente gustativas e táteis. E são as imagens que ajudam a construir lembranças.
Que tal associar o tato a memória?
Vamos imaginar que estamos numa livraria, caminhando pelos corredores a busca da seção dos livros que nos interessam, encontramos a prateleira, vemos as lombadas dos livros, letras variadas, cores diferentes. Fechamos os olhos e passamos as mãos pelos livros. Uma textura chama a nossa atenção. Pode ser áspera, lisa, aveludada. Puxamos o livro. Será leve ou pesado? Grande ou pequeno? Fino ou grosso? Está estabelecido o contato.
Deveríamos considerar o objeto livro como um corpo que se toca. Tateá-lo, sentir a estrutura de suas páginas, criar intimidade com sua forma, manuseá-lo. Essa é uma boa maneira de começar um tórrido caso de amor.
VISÃO
Nascidos para ver, educados para olhar. GOETHE
Os olhos são os grandes manipuladores dos sentidos, pois com eles vemos e compreendemos o mundo. Vamos decifrando os códigos e construindo juízos, percepções.
E é a visão que faz o primeiro contato com o objeto-livro. Começamos observando a letra, as imagens, o projeto gráfico. Podemos apreender várias informações que ajudam a descobrir o tipo de leitura que vamos encontrar: capa, lombada, orelha,... Quanto a desvendar num objeto que a principio víamos apenas uma história!
Mas os olhos também mentem e podem nos atrair para um livro apenas pelo seu aspecto visual ou nos afastar pelas quatrocentas páginas que contem. E a única possibilidade de saber se estamos enganados é conhecer seu conteúdo. No entanto, essa aproximação também pode ser periférica ou intensiva. E assim se define um leitor ou um momento de leitura que vai variar dependendo do material que temos em nossas mãos.
Talvez o grande avanço e a maior dificuldade seja aprender a ler com olhos de leitor e escritor. É importante distinguir esse duplo olhar, pois quem lê só como leitor, que não é algo ruim, fica num nível primário de leitura. É fácil detectar a falta da experiência leitora pelos conhecidos e primários julgamentos: gostei muito do livro, achei interessante, não gostei. Mas isso não é suficiente.
Para o pesquisador espanhol Victor Moreno é fundamental ler também como escritor: “Quem lê como escritor se verá obrigado a disciplinar seu olhar de um modo maisintenso, detendo-se naqueles aspectos que podem levá-lo a melhorar sua competência comunicativa, lingüística e sua educação literária”.
OLFATO
Mas também temos que saber cheirar as palavras, sermos capazes de captar seus aromas mais voláteis e mais dispersos. Saber distinguir o tipo de odor que as impregna: o cheiro de incenso, o cheiro de quartel, o cheiro de colégio. NIETZSCHE
Nas primeiras semanas de vida, as imagens e os sons necessitam
de significado e são os cheiros e o tato os principais estímulos que nos comunicam com o mundo. Mesmo assim o olfato sempre foi considerado um sentido modesto, de pouca importância, mas é o primeiro e último canal de comunicação com o meio externo, basta lembrar que quando nascemos é o ar que entra em nossos pulmões que promove a primeira manifestação de vida: o choro. E quando morremos, damos o nosso último suspiro.
de significado e são os cheiros e o tato os principais estímulos que nos comunicam com o mundo. Mesmo assim o olfato sempre foi considerado um sentido modesto, de pouca importância, mas é o primeiro e último canal de comunicação com o meio externo, basta lembrar que quando nascemos é o ar que entra em nossos pulmões que promove a primeira manifestação de vida: o choro. E quando morremos, damos o nosso último suspiro.
O cérebro tudo cheira, por isso o olfato este sempre carregado de lembranças: o bolo de chocolate da casa da avó, o perfume do primeiro amor, o cheiro da terra molhada depois da chuva...
É o olfato que nos põe em contato com os aromas desprendidos pelos diversos componentes do livro, aspirando o frescor da tinta que vem de um livro novo ou o cheiro rançoso exalado por antigos exemplares. E sem muito esforço podemos associar nossas leituras também a muitas fragrâncias ou adjetivos olfativos: mentolado, floral, resinoso, doce, ácido, amargo, salgado, asfixiante, imundo, agradável, excitante, refrescante, delicioso, embriagador, balsâmico, penetrante.
Um mediador de leitura deve indicar livros com perfumes embriagadores, mesmo tendo a consciência de que não existe um bom olfato para os livros como existe para os negócios, principalmente se chegarem a leitores com narizes resfriados.
AUDIÇÃO
É preciso saber captar o timbre com o qual o livro fala, porque cada espírito tem seu som. Há livros que falam baixo e livros que falam alto, livros de tom grave e de tom agudo e talvez poderíamos acrescentar: livros que soam secos e sincopados como ordens militares, melífluos , confusos e mentirosos como mitenes políticos, falsos e ocos como tagarelices publicitárias. JORGE LARROSA
A audição é o segundo sentido a se desenvolver no ventre materno sendo precedido apenas pelo tato. Na 21ª semana de gestação entre em ação uma bela aventura sonora: o músculo cardíaco produz a pulsação rítmica, o estômago e intestinos produzem sons audíveis até fora do corpo, e o que dizer das articulações do esqueleto.
Gravações intra-amnióticas detectaram que de todos os sons a que o feto está exposto o que se destaca é o som da voz humana. Com isto deduz-se que o feto humano ouve a voz da mãe e dos próximos a ela, nas suas características particulares de ritmo, entonação, variação de freqüências e timbre. O bebê em gestação ouve a voz, mas não a palavra. Responde aos ruídos bruscos sobresaltando-se e fica imóvel ante uma voz suave ou uma música tranqüila. Ao nascer, quando a maioria dos órgãos sensoriais ainda estão imaturos, o bebê ouve perfeitamente.
Portanto no nascimento podemos começar a desenvolver a Leitura de ouvido termo usado pelo professor Ezequiel Theodoro da Silva, da UNICAMP, ao se referir ao ato de contar histórias.
Narrar histórias ficcionais, de família, inventadas na hora é a primeira estratégia eficaz de promoção de leitura. Todos que tiveram a oportunidade de ouvir relatam como uma experiência inesquecível.
Mas é claro que isso não é suficiente se não fizermos a ponte com o livro. E aí a arte de narrar pode se repetir pela vida, pois o ouvinte entenderá a importância das duas ações: contar e ler.
Afinal o livro não produz ruído por si mesmo, onde são colocados ficam a espera de um leitor. E quando são abertos e lidos surgem as vozes do narrador, dos personagens, fazendo com que muitas vezes o leitor acredite estar vivendo a aventura daquele protagonista.
Existe um ditado que diz: não há pior surdo que aquele que não quer ouvir. Aplicado este refrão à relação que se mantém com os livros, encontramos certas conseqüências práticas. Do mesmo modo que se diz que não há livro tolo do qual não se possa extrair alguma idéia inteligente, assim se chega à conclusão que em qualquer livro uma pessoa pode ouvir/escutar não só o que lhe agrada.
PALADAR
Um grande número de livros faz perder o gosto de lê-los e mata o prazer. NIETZSCHE
Quando crianças detestamos os sabores amargos, desconfiamos dos ácidos, aceitamos os salgados e sucumbimos aos doces. Já adultos abusamos dos salgados e dos doces, apreciamos os ácidos e toleramos os amargos. Os gostos mudam com a idade e evoluem. As viagens, a variedade de acontecimentos temperam o sentido do paladar que ganha novos matizes de acordo com a experiência.
A palavra gosto pode se referir ao sentido localizado na língua e as sensações que se experimentam com o dito órgão e também pode se relacionar com a estética. Por gosto estético se entende essa maneira de sentir e de julgar que temos das coisas e das pessoas.
Os textos que nos oferecem podem ser triturados de mil e uma maneiras porque os objetivos da leitura são múltiplos e variados, mas dizer de uma obra que “gosto ou não gosto” é, certamente, um pensamento tão profundo que não diz nada.
Claro que dizer “gosto”, é algo fundamental para decidir se continuo ou paro de ler um livro. Mas esse vislumbre do gosto só servirá a mim e aos outros, se ao mesmo tempo me pergunto por que.
Desenvolver o gosto pela leitura será mais fácil se tivermos livros diferentes para os destinatários, pois à medida que crescemos vamos ficando mais exigentes com tudo que nos rodeia. Assim como os sabores, ao longo da vida, vamos descobrindo autores, gêneros, estilos, níveis de degustação leitora (pessoal, interpretativa e crítica).
Nietzsche sustenta que a arte da leitura está relacionada com o sentido do gosto e com a saúde da digestão. Ler é comer bem: saber escolher os livros que estão em harmonia com a própria natureza e rejeitar os outros; ler livros variados, ler com prazer e frugalidade, assimilar o essencial e esquecer o resto. É preciso tomar a leitura como algo que aumenta a própria força, dedicar-lhe o tempo justo.
Os livros são valorados pelos seus efeitos sobre o gosto e há, portanto, livros doces e amargos, picantes, saborosos, ácidos, insípidos, frescos, de digestão leve ou pesada, livros que dão nojo ou que não é possível tragar. Há pessoas que são o que comem, outras, por essas mesmas razões, provam que são o que lêem.
POR ONDE COMEÇAR
Essa é uma escolha individual, mas que deve vir acompanhada de um sentido que metaforicamente ajuda a todos na travessia da vida. Trata-se do humor que possibilita a reflexão, alivia as tensões e nos difere dos outros animais, já que “o homem é o único animal que ri”.
Então que a partir desse momento cada um abra as comportas dos seus sentidos e olhe, ouça, toque, saboreie e cheire um inesquecível livro.
Bibliografia:
- MORENO, Víctor. Leer con los cinco sentidos. Pamplona: Pamiela, 2003.
- LARROSA, Jorge. Nietzsche & a Educação. Tradução de Semíramis Gorini da Veiga. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
sexta-feira, fevereiro 25, 2011
quinta-feira, fevereiro 24, 2011
RAPUNZEL - IRMÃOS GRIMM
Era uma vez um casal que há muito tempo desejava inutilmente ter um filho. Os anos se passavam, e seu sonho não se realizava. Afinal, um belo dia, a mulher percebeu que Deus ouvira suas preces. Ela ia ter uma criança!
Por uma janelinha que havia na parte dos fundos da casa deles, era possível ver, no quintal vizinho, um magnífico jardim cheio das mais lindas flores e das mais viçosas hortaliças. Mas em torno de tudo se erguia um muro altíssimo, que ninguém se atrevia a escalar. Afinal, era a propriedade de uma feiticeira muito temida e poderosa.
Um dia, espiando pela janelinha, a mulher se admirou ao ver um canteiro cheio dos mais belos pés de rabanete que jamais imaginara. As folhas eram tão verdes e fresquinhas que abriram seu apetite. E ela sentiu um enorme desejo de provar os rabanetes.
A cada dia seu desejo aumentava mais. Mas ela sabia que não havia jeito de conseguir o que queria e por isso foi ficando triste, abatida e com um aspecto doentio, até que um dia o marido se assustou e perguntou:
— O que está acontecendo contigo, querida?
— Ah! — respondeu ela. — Se não comer um rabanete do jardim da feiticeira, vou morrer logo, logo!
O marido, que a amava muito, pensou: “Não posso deixar minha mulher morrer… Tenho que conseguir esses rabanetes, custe o que custar!”
Ao anoitecer, ele encostou uma escada no muro, pulou para o quintal vizinho, arrancou apressadamente um punhado de rabanetes e levou para a mulher. Mais que depressa, ela preparou uma salada que comeu imediatamente, deliciada. Ela achou o sabor da salada tão bom, mas tão bom, que no dia seguinte seu desejo de comer rabanetes ficou ainda mais forte. Para sossegá-la, o marido prometeu-lhe que iria buscar mais um pouco.
Quando a noite chegou, pulou novamente o muro mas, mal pisou no chão do outro lado, levou um tremendo susto: de pé, diante dele, estava a feiticeira.
— Como se atreve a entrar no meu quintal como um ladrão, para roubar meus rabanetes? — perguntou ela com os olhos chispando de raiva. — Vai ver só o que te espera!
— Oh! Tenha piedade! — implorou o homem. — Só fiz isso porque fui obrigado! Minha mulher viu seus rabanetes pela nossa janela e sentiu tanta vontade de comê-los, mas tanta vontade, que na certa morrerá se eu não levar alguns!
A feiticeira se acalmou e disse:
— Se é assim como diz, deixo você levar quantos rabanetes quiser, mas com uma condição: irá me dar a criança que sua mulher vai ter. Cuidarei dela como se fosse sua própria mãe, e nada lhe faltará.
O homem estava tão apavorado, que concordou. Pouco tempo depois, o bebê nasceu. Era uma menina. A feiticeira surgiu no mesmo instante, deu à criança o nome de Rapunzel e levou-a embora.
Rapunzel cresceu e se tomou a mais linda criança sob o sol. Quando fez doze anos, a feiticeira trancou-a no alto de uma torre, no meio da floresta.
A torre não possuía nem escada, nem porta: apenas uma janelinha, no lugar mais alto. Quando a velha desejava entrar, ficava embaixo da janela e gritava:
— Rapunzel, Rapunzel! Joga abaixo tuas tranças!
Rapunzel tinha magníficos cabelos compridos, finos como fios de ouro. Quando ouvia o chamado da velha, abria a janela, desenrolava as tranças e jogava-as para fora. As tranças caíam vinte metros abaixo, e por elas a feiticeira subia.
Alguns anos depois, o filho do rei estava cavalgando pela floresta e passou perto da torre. Ouviu um canto tão bonito que parou, encantado.
Rapunzel, para espantar a solidão, cantava para si mesma com sua doce voz.
Imediatamente o príncipe quis subir, procurou uma porta por toda parte, mas não encontrou. Inconformado, voltou para casa. Mas o maravilhoso canto tocara seu coração de tal maneira que ele começou a ir para a floresta todos os dias, querendo ouvi-lo outra vez.
Em uma dessas vezes, o príncipe estava descansando atrás de uma árvore e viu a feiticeira aproximar-se da torre e gritar: “Rapunzel, Rapunzel"! Joga abaixo tuas tranças!”. E viu quando a feiticeira subiu pelas tranças.
É essa a escada pela qual se sobe?”, pensou o príncipe. “Pois eu vou tentar a sorte…”.
No dia seguinte, quando escureceu, ele se aproximou da torre e, bem embaixo da janelinha, gritou:
— Rapunzel, Rapunzel! Joga abaixo tuas tranças!
As tranças caíram pela janela abaixo, e ele subiu.
Rapunzel ficou muito assustada ao vê-lo entrar, pois jamais tinha visto um homem.
Mas o príncipe falou-lhe com muita doçura e contou como seu coração ficara transtornado desde que a ouvira cantar, explicando que não teria sossego enquanto não a conhecesse.
Por uma janelinha que havia na parte dos fundos da casa deles, era possível ver, no quintal vizinho, um magnífico jardim cheio das mais lindas flores e das mais viçosas hortaliças. Mas em torno de tudo se erguia um muro altíssimo, que ninguém se atrevia a escalar. Afinal, era a propriedade de uma feiticeira muito temida e poderosa.
Um dia, espiando pela janelinha, a mulher se admirou ao ver um canteiro cheio dos mais belos pés de rabanete que jamais imaginara. As folhas eram tão verdes e fresquinhas que abriram seu apetite. E ela sentiu um enorme desejo de provar os rabanetes.
A cada dia seu desejo aumentava mais. Mas ela sabia que não havia jeito de conseguir o que queria e por isso foi ficando triste, abatida e com um aspecto doentio, até que um dia o marido se assustou e perguntou:
— O que está acontecendo contigo, querida?
— Ah! — respondeu ela. — Se não comer um rabanete do jardim da feiticeira, vou morrer logo, logo!
O marido, que a amava muito, pensou: “Não posso deixar minha mulher morrer… Tenho que conseguir esses rabanetes, custe o que custar!”
Ao anoitecer, ele encostou uma escada no muro, pulou para o quintal vizinho, arrancou apressadamente um punhado de rabanetes e levou para a mulher. Mais que depressa, ela preparou uma salada que comeu imediatamente, deliciada. Ela achou o sabor da salada tão bom, mas tão bom, que no dia seguinte seu desejo de comer rabanetes ficou ainda mais forte. Para sossegá-la, o marido prometeu-lhe que iria buscar mais um pouco.
Quando a noite chegou, pulou novamente o muro mas, mal pisou no chão do outro lado, levou um tremendo susto: de pé, diante dele, estava a feiticeira.
— Como se atreve a entrar no meu quintal como um ladrão, para roubar meus rabanetes? — perguntou ela com os olhos chispando de raiva. — Vai ver só o que te espera!
— Oh! Tenha piedade! — implorou o homem. — Só fiz isso porque fui obrigado! Minha mulher viu seus rabanetes pela nossa janela e sentiu tanta vontade de comê-los, mas tanta vontade, que na certa morrerá se eu não levar alguns!
A feiticeira se acalmou e disse:
— Se é assim como diz, deixo você levar quantos rabanetes quiser, mas com uma condição: irá me dar a criança que sua mulher vai ter. Cuidarei dela como se fosse sua própria mãe, e nada lhe faltará.
O homem estava tão apavorado, que concordou. Pouco tempo depois, o bebê nasceu. Era uma menina. A feiticeira surgiu no mesmo instante, deu à criança o nome de Rapunzel e levou-a embora.
Rapunzel cresceu e se tomou a mais linda criança sob o sol. Quando fez doze anos, a feiticeira trancou-a no alto de uma torre, no meio da floresta.
A torre não possuía nem escada, nem porta: apenas uma janelinha, no lugar mais alto. Quando a velha desejava entrar, ficava embaixo da janela e gritava:
— Rapunzel, Rapunzel! Joga abaixo tuas tranças!
Rapunzel tinha magníficos cabelos compridos, finos como fios de ouro. Quando ouvia o chamado da velha, abria a janela, desenrolava as tranças e jogava-as para fora. As tranças caíam vinte metros abaixo, e por elas a feiticeira subia.
Alguns anos depois, o filho do rei estava cavalgando pela floresta e passou perto da torre. Ouviu um canto tão bonito que parou, encantado.
Rapunzel, para espantar a solidão, cantava para si mesma com sua doce voz.
Imediatamente o príncipe quis subir, procurou uma porta por toda parte, mas não encontrou. Inconformado, voltou para casa. Mas o maravilhoso canto tocara seu coração de tal maneira que ele começou a ir para a floresta todos os dias, querendo ouvi-lo outra vez.
Em uma dessas vezes, o príncipe estava descansando atrás de uma árvore e viu a feiticeira aproximar-se da torre e gritar: “Rapunzel, Rapunzel"! Joga abaixo tuas tranças!”. E viu quando a feiticeira subiu pelas tranças.
É essa a escada pela qual se sobe?”, pensou o príncipe. “Pois eu vou tentar a sorte…”.
No dia seguinte, quando escureceu, ele se aproximou da torre e, bem embaixo da janelinha, gritou:
— Rapunzel, Rapunzel! Joga abaixo tuas tranças!
As tranças caíram pela janela abaixo, e ele subiu.
Rapunzel ficou muito assustada ao vê-lo entrar, pois jamais tinha visto um homem.
Mas o príncipe falou-lhe com muita doçura e contou como seu coração ficara transtornado desde que a ouvira cantar, explicando que não teria sossego enquanto não a conhecesse.
— Sim! Eu quero ir com você! Mas não sei como descer… Sempre que vier me ver, traga uma meada de seda. Com ela vou trançar uma escada e, quando ficar pronta, eu desço, e você me leva no seu cavalo.
Combinaram que ele sempre viria ao cair da noite, porque a velha costumava vir durante o dia. Assim foi, e a feiticeira de nada desconfiava até que um dia Rapunzel, sem querer, perguntou a ela:
— Diga-me, senhora, como é que lhe custa tanto subir, enquanto o jovem filho do rei chega aqui num instantinho?
— Ah, menina ruim! — gritou a feiticeira. — Pensei que tinha isolado você do mundo, e você me engana!
Na sua fúria, agarrou Rapunzel pelo cabelos e esbofeteou-a. Depois, com a outra mão, pegou uma tesoura e tec, tec! cortou as belas tranças, largando-as no chão.
Não contente, a malvada levou a pobre menina para um deserto e abandonou-a ali, para que sofresse e passasse todo tipo de privação.
Na tarde do mesmo dia em que Rapunzel foi expulsa, a feiticeira prendeu as longas tranças num gancho da janela e ficou esperando. Quando o príncipe veio e chamou: “Rapunzel! Rapunzel! Joga abaixo tuas tranças!”, ela deixou as tranças caírem para fora e ficou esperando.
Ao entrar, o pobre rapaz não encontrou sua querida Rapunzel, mas sim a terrível feiticeira. Com um olhar chamejante de ódio, ela gritou zombeteira:
— Ah, ah! Você veio buscar sua amada? Pois a linda avezinha não está mais no ninho, nem canta mais! O gato apanhou-a, levou-a, e agora vai arranhar os seus olhos! Nunca mais você verá Rapunzel! Ela está perdida para você!
Ao ouvir isso, o príncipe ficou fora de si e, em seu desespero, se atirou pela janela. O jovem não morreu, mas caiu sobre espinhos que furaram seus olhos e ele ficou cego.
Desesperado, ficou perambulando pela floresta, alimentando-se apenas de frutos e raízes, sem fazer outra coisa que se lamentar e chorar a perda da amada.
Passaram-se os anos. Um dia, por acaso, o príncipe chegou ao deserto no qual Rapunzel vivia, na maior tristeza, com seus filhos gêmeos, um menino e uma menina, que haviam nascido ali.
Ouvindo uma voz que lhe pareceu familiar, o príncipe caminhou na direção de Rapunzel. Assim que chegou perto, ela logo o reconheceu e se atirou em seus braços, a chorar.
Duas das lágrimas da moça caíram nos olhos dele e, no mesmo instante, o príncipe recuperou a visão e ficou enxergando tão bem quanto antes.
Então, levou Rapunzel e as crianças para seu reino, onde foram recebidos com grande alegria. Ali viveram felizes e contentes.
domingo, fevereiro 20, 2011
sábado, fevereiro 19, 2011
PALESTRA COM RUBEM ALVES EM TAIÓ - SC - BRASIL
Rubem Alves é educador, escritor, psicanalista e professor. É na verdade um dos educadores mais famosos no Brasil. É autor de mais de sessenta livros, entre os quais se encontra uma prolífica literatura infantil e vários livros voltados para a área da educação.
Em sua obra, Conversas com quem gosta de ensinar, ao abordar temas sérios e importantes como a formação do educador, a diferença entre o professor e o educador, o processo educacional, a qualidade total na educação, torna seu texto agradável por tratar de uma forma criativa o assunto, utilizando-se de histórias e até mesmo de fábulas para um melhor entendimento do conteúdo.
Segundo o autor ensinar é mobilizar o desejo de aprender. Mais importante do que saber é nunca perder a capacidade de aprender. "Saber é saborear", diz Rubem Alves. O novo profissional da educação deve romper o divórcio entre a vida escolar e o prazer.
Diante da atual sociedade em que vivemos, onde o capitalismo dita as regras de todas as áreas possíveis, vem atingir também a área do ensino, em que se visa eficiência e lucro e esquece-se da importância do prazer pelo ensino e aprendizagem.
Rubem Alves faz uma boa distinção entre o Professor e o Educador, "advertindo-nos de que na realidade, na prática, eles se encontram juntos, mesclados no profissional da educação".
Para esse pedagogo "o Professor trabalha sem interesse e sem prazer, apenas para obter um salário e usufruir dele".
E constatamos com tristeza, que essa é uma realidade da grande maioria dos docentes de nossas escolas. Os professores estão muito mais preocupados se o que vão receber de salário vai dar para suprir suas necessidades, do que com a pessoa do aluno, se está ou não sendo lesado com esses descasos e falta de compromisso e responsabilidade.
Para Rubem Alves o educador é aquele que abraça a causa com vontade, que tem paixão pelo que faz. Ele busca motivar seus alunos, construindo constantemente novos saberes e contagiando os alunos, descobrindo que há esperança e que é possível transformar o azedo limão em uma deliciosa limonada.
O grande pedagogo de nossos dias, escreveu um texto, bastante poético, intitulado: "Sobre Jequitibás e Eucaliptos: Amar", onde deixa claro seu questionamento sobre o que é educar e qual a identidade de quem se propõe tal tarefa, e remete-nos sempre ao mesmo ponto: ensinar é prazer. Nessa parte ele compara o educador (que ensina com amor) com um Jequitibá, árvore robusta que raramente se vê nos dias de hoje; os professores por suavez, são comparados com Eucaliptos, árvore que encontramos com facilidade.
Essa distinção se dá através de temas sensíveis como amar, acordar, libertar e agir. Questiona a perda do amor pela arte de ensinar e aborda o resultado que isso trará para os alunos. Aponta que muitas vezes a miséria nos meios de educação não é culpa do governo e sim de mesquinharias que professores e cientistas estabelecem entre si. Mais uma vez ele critica a prática da ciência visando apenas resultados econômicos, podendo ser usada para o bem e para o mal.
A existência da dicotomia professor/educador deve-se muito, segundo Alves, ao rápido desenvolvimento da ciência nos séculos XIX e XX, cujo caráter objetivo de seus conhecimentos desprezou aspectos relevantes da experiência e interioridade humanas, como opiniões pessoais, reflexões, ideologias, sonhos, paixões, esperanças, utopias, desejos. A ciência patrocinou o avanço da tecnologia, que fez com que as pessoas idolatrassem a produção daquilo que é útil e imediato para o dia-a-dia. Surgiu, o utilitarismo, segundo o qual as pessoas são determinadas pelo que produzem e objetivamente fazem.
Na obra o autor ainda profetiza o professor como sendo aquele que informa, transmite conhecimentos, enquanto que o educador, além de informar, procura formar e informar, assim segundo ele, o educador atua movido pela sua intenção social, o professor pelas regras das instituições.
Rubem Alves estabelece diferença entre professor e educador:
Outro ponto está na questão metodologia, ressalto que não podemos fugir da mesma, mas de seu exagerado rigor sim. Conforme Rubem Alves, fazer ciência pela ciência é mero exercício, sem levar em conta o seu uso para fins, cuja finalidade seja resolver questões humanas de importância.
A idéia central que Rubem Alves traz é a "linguagem, a fala ao lado do corpo". O corpo é o primeiro livro que devemos descobrir; por isso, é preciso reaprender a linguagem do amor, das coisas belas e das coisas boas, para que o corpo se levante e se disponha a lutar.
A educação é um ato político, que exige reflexão, dentre elas, desenvolver a função crítica em que o questionamento deve ser cada vez mais aguçado. E a função criativa, em que o educador se permite sonhar e buscar realizá-los, não se conformando com o pronto e acabado, mas indo em busca do novo, do desejado e porque não do aparentemente impossível?
Podemos concluir que com certeza exemplo de interdisciplinaridade é Rubem Alves, que em sua carreira quis ser: médico, pianista, teólogo. Mas ensinar é realmente o que mais gosta de fazer, principalmente porque ensina o que gosta.
Fonte:Blog Livraria Universitária
Fonte:Blog Livraria Universitária
quarta-feira, fevereiro 16, 2011
A HISTÓRIA DAS VOGAIS
HISTÓRIA DAS CINCO VOGAIS
O "A" ESTAVA CANSADO DE VIVER SOZINHO,
ANDAVA DE UM LADO PARA O OUTRO
E NADA DE ENCONTRAR UM AMIGUINHO
CERTO DIA, APARECEU UM LÁPIS,
QUE COMEÇOU A FAZER VÁRIOS RISQUINHOS.
- O QUE SERÁ QUE ELE ESTAVA FAZENDO, PENSAVA O "A".
DE REPENTE APARECEU O "E".
O A FICOU TÃO FELIZ ,QUE FOI LOGO AO ENCONTRO DO "E".
MAS O E ACHOU QUE ERA AINDA POUCO, NÃO DAVA PARA FORMAR NADA.
FOI ENTÃO QUE O LÁPIS VOLTOU E DEU UM RISQUINHO
- VIVA! UMA LETRA COMPRIDINHA.
É O "I", FALOU O "A".
MAS AINDA ERA POUCO...
O "A" ,O "E" E O "I" RESOLVERAM E CHAMARAM O LÁPIS, QUE MAIS UMA VEZ APARECEU E FEZ UMA BOLINHA.
FOI AÍ QUE SURGIU O "O".
PARA ESPANTO DE TODOS, O "O" NÃO QUERIA VIR SOZINHO E FOI LOGO PEDINDO AO LÁPIS QUE TROUXESSE SEU AMIGO "U".
QUANTA FELICIDADE! O A, E, I, O, U, AGORA JUNTINHAS FORMAM O GRUPO DAS VOGAIS, QUE ESTÃO EM TODAS AS PALAVRAS.
VEJAM SÓ QUANTA ALEGRIA! AS VOGAIS SAIRAM FESTEJANDO, PULAVAM, CORRIAM, E BRINCAVAM DE FORMAR PALAVRAS.
Fonte: A arte de Ensinar na Educação Infantil de Sandra Brinin
segunda-feira, fevereiro 14, 2011
domingo, fevereiro 13, 2011
ROMERO BRITTO ENTREGA RETRATO A PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF
Após ter publicado na revista do New York Times um anúncio com o retrato de Dilma Roussef, o artista plástico pernambucano Romero Britto será recebido nesta segunda-feira, às 15h30, pela presidente.
O encontro será no Palácio do Planalto, em Brasília, logo após a reunião de coordenação política de Dilma com seus ministros.
Com agenda apertada, Dilma abriu espaço na programação desta segunda-feira porque Romero Britto quer entregar pessoalmente o retrato que fez para homenagear a presidenta.
Britto tem uma galeria em Miami e ficou conhecido por suas obras em murais coloridos. Ele desembarca neste domingo no Brasil.
CONTO: MINHA CHUPETA VIROU ESTRELA DE JANUÁRIA ALVES
Minha chupeta virou estrela
Januária Alves
Eu me chamo Pedro e tenho 7 anos. Eu tenho uma estrela, sabe?
Uma estrelona, linda, que está lá no céu, brilhando, todos os dias.
Quando eu tinha 3 anos, para salvar meu dente da frente que ficou mole porque eu caí de boca brincando na gangorra da escola, minha dentista me disse que... EU TERIA QUE PARAR DE USAR A MINHA QUERIDA CHUPETA VERDE!
– A chupeta ou o dente! – ela me mandou escolher.
Bom, eu nem quis ouvir direito essa proposta tão maluca! A doutora Virgínia e a minha mãe tentaram conversar comigo, explicar por que era importante eu não perder um dente tão cedo e... nada. Eu só olhava com o olho mais comprido do mundo para a chupeta verde, minha companheira do sono mais gostoso do mundo! Como dormir sem ela?
Na primeira noite em que fiquei sem a minha querida chupeta, só lembro de sentir o cheiro da minha mãe, que me carregou no colo enquanto papai dirigia nosso carro, passeando em frente ao meu parque preferido pra ver se eu enfim conseguia pegar no sono...
No dia seguinte fui com minha mãe e meu irmão ao parque e levei pão para dar aos patos que moram num lago bem bonito que tem lá. Um pato maior e mais cinza que os outros me chamou a atenção. Ele veio várias vezes comer pão na minha mão e eu gostei dele. Parecia o patinho feio da história que meu pai sempre contava antes de eu dormir.
Mamãe chegou perto de nós e disse que aquele era mesmo um pato especial. Ele costumava tomar conta das chupetas de alguns meninos. E fazia isso muito bem: ele transformava todas em estrelas! Superlegal!
Pus o nome naquele pato de Pato Pão. Eu não queria perder nem o meu dente nem a minha chupeta... Talvez o Pato Pão fosse a soluçãopara o meu problema! Então... resolvi dar a minha chupeta verde para ele. Ele pegou minha chupeta verde com o bico e atirou longe, no lago. Eu fiquei olhando para ela boiando, boiando... até desaparecer... Na hora de entregar a minha chupeta verde, mesmo para um pato tão especial como o Pato Pão, eu segurei bem forte a mão da minha mãe e a do meu irmão!
Enquanto a minha chupeta verde ia embora no lago, pensei que naquela noite ela não ia estar embaixo do meu travesseiro. Eu teria que ir até a janela se quisesse dar uma espiada nela.
Quando a noite apareceu, meu pai chegou do trabalho e se deitou na cama comigo, olhando pro céu, procurando a minha estrela-chupeta verde. Eu vi primeiro e nós dois batemos palmas pra ela! Aí eu só me lembro de adormecer com aquele brilho de estrela no meu olho e a sensação do abraço enorme do meu pai.
Todas as vezes em que penso na minha chupeta, olho pro céu, procurando a estrela-chupeta verde. Agora, a saudade, em vez de crescer como eu, fica menor a cada noite. Deve ser porque meninos grandes gostam mais de estrelas no céu do que de chupetas, eu acho.
Uma estrelona, linda, que está lá no céu, brilhando, todos os dias.
Quando eu tinha 3 anos, para salvar meu dente da frente que ficou mole porque eu caí de boca brincando na gangorra da escola, minha dentista me disse que... EU TERIA QUE PARAR DE USAR A MINHA QUERIDA CHUPETA VERDE!
– A chupeta ou o dente! – ela me mandou escolher.
Bom, eu nem quis ouvir direito essa proposta tão maluca! A doutora Virgínia e a minha mãe tentaram conversar comigo, explicar por que era importante eu não perder um dente tão cedo e... nada. Eu só olhava com o olho mais comprido do mundo para a chupeta verde, minha companheira do sono mais gostoso do mundo! Como dormir sem ela?
Na primeira noite em que fiquei sem a minha querida chupeta, só lembro de sentir o cheiro da minha mãe, que me carregou no colo enquanto papai dirigia nosso carro, passeando em frente ao meu parque preferido pra ver se eu enfim conseguia pegar no sono...
No dia seguinte fui com minha mãe e meu irmão ao parque e levei pão para dar aos patos que moram num lago bem bonito que tem lá. Um pato maior e mais cinza que os outros me chamou a atenção. Ele veio várias vezes comer pão na minha mão e eu gostei dele. Parecia o patinho feio da história que meu pai sempre contava antes de eu dormir.
Mamãe chegou perto de nós e disse que aquele era mesmo um pato especial. Ele costumava tomar conta das chupetas de alguns meninos. E fazia isso muito bem: ele transformava todas em estrelas! Superlegal!
Pus o nome naquele pato de Pato Pão. Eu não queria perder nem o meu dente nem a minha chupeta... Talvez o Pato Pão fosse a soluçãopara o meu problema! Então... resolvi dar a minha chupeta verde para ele. Ele pegou minha chupeta verde com o bico e atirou longe, no lago. Eu fiquei olhando para ela boiando, boiando... até desaparecer... Na hora de entregar a minha chupeta verde, mesmo para um pato tão especial como o Pato Pão, eu segurei bem forte a mão da minha mãe e a do meu irmão!
Enquanto a minha chupeta verde ia embora no lago, pensei que naquela noite ela não ia estar embaixo do meu travesseiro. Eu teria que ir até a janela se quisesse dar uma espiada nela.
Quando a noite apareceu, meu pai chegou do trabalho e se deitou na cama comigo, olhando pro céu, procurando a minha estrela-chupeta verde. Eu vi primeiro e nós dois batemos palmas pra ela! Aí eu só me lembro de adormecer com aquele brilho de estrela no meu olho e a sensação do abraço enorme do meu pai.
Todas as vezes em que penso na minha chupeta, olho pro céu, procurando a estrela-chupeta verde. Agora, a saudade, em vez de crescer como eu, fica menor a cada noite. Deve ser porque meninos grandes gostam mais de estrelas no céu do que de chupetas, eu acho.
Conto de Januária Alves, ilustrado por Ionit Ziberman
Fonte:Nova Escola
sexta-feira, fevereiro 11, 2011
OS DESAFIOS DE ALFABETIZAR LETRANDO
Já dizia Paulo Freire (2001) que aprender a ler e a escrever é aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto numa relação dinâmica vinculando linguagem e realidade e ser alfabetizado é tornar-se capaz de usar a leitura e a escrita como meio de tomar consciência da realidade e de transformá-la.
Ao longo dos anos a alfabetização tem sido alvo de inúmeras controvérsias teóricas e metodológicas, exigindo que a escola e, os educadores se posicionem em relação às mesmas, construindo suas práticas a partir do que está sendo discutido no meio acadêmico e transposto para a sala de aula a partir de suas reinterpretações e do que é possível e pertinente ser feito.
Essas mudanças nas práticas de ensino podem ocorrer tanto nas definições dos conteúdos a serem desenvolvidos quanto na natureza da organização do trabalho pedagógico.
Hoje o desafio maior é “Como alfabetizar letrando”?
A palavra letramento é uma tradução para o português da palavra inglesa Literacy “condição de ser letrado”.
Assim, letramento é o estado ou a condição de quem responde adequadamente às demandas sociais pelo uso amplo e diferenciado da leitura e da escrita.
De acordo com Soares (2003), alfabetização e letramento são processos distintos, de natureza essencialmente diferente, porém, são interdependentes e indissociáveis, pois uma pessoa pode ser alfabetizada e não ser letrada ou ser letrada e não ser alfabetizada.
Na concepção atual, a alfabetização não precede o letramento, os dois processos podem ser vistos como simultâneos, entendendo que no conceito de alfabetização estaria compreendido o de letramento e vice-versa.
Isto será possível se a alfabetização for entendida além da aprendizagem grafofônica e que em letramento inclui-se a aprendizagem do sistema de escrita. A conveniência da existência dos dois termos, que embora designem processos interdependentes, indissociáveis e simultâneos, são processos de natureza diferente, uma vez que envolve habilidades e competências específicas, implicando, com isso, formas diferenciadas de aprendizagem e em conseqüência, métodos e procedimentos diferenciados de ensino.
Assim, a participação das crianças em experiências variadas com leitura e escrita, conhecimento e interação com diferentes tipos e gêneros de material, a habilidade de codificação e decodificação da língua escrita, o conhecimento e reconhecimento dos processos de tradução da fala sonora para a forma gráfica da escrita implica numa importante revisão dos procedimentos e métodos para o ensino, uma vez que cada fase desse processo exige procedimentos e métodos diferenciados, pois cada criança e cada grupo de crianças necessitam de formas diferenciadas na ação pedagógica.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo. 41ª ed.Cortez. 2001.
MORAIS A.amp; Leite T. Como promover o desenvolvimento das habilidades de reflexão fonológica dos alfabetizandos. MEC :UFPE/ CEEL 2005.
SOARES, Magda.Letramento e escolarização. São Paulo: Global, 2003.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
Fonte: Prô Cris Chabes